Neste artigo, vou te ensinar tudo o que você precisa saber a respeito de Bioconstrução.
Aqui quem fala é o Flávio Duarte, escrevi este texto junto com o Bruno Azevedo para te apresentar absolutamente tudo que aprendemos em 20 anos de bioconstrução.
Deixarei aqui a minha formação na página do autor, assim como a formação do Bruno Azevedo na página de autor
Este texto foi pensado para servir a estudantes de arquitetura, arquitetos, pessoas buscando informação para fazer suas casas e dúvidas gerais que a equipe da Biohabitate conseguiu encontrar.
Lembre-se, somos especializados em arquitetura sustentável, qualquer dúvida que você tiver basta entrar em contato diretamente com nosso whatsapp, ficaremos felizes em compartilhar nosso conhecimento e ajudar você em qualquer escolha relacionada à bioconstrução.
Qual conceito e significado da palavra bioconstrução
O conceito de bioconstrução é literalmente entender e considerar a edificação um ser vivo construído. É a junção de duas palavras, construção e bio que do grego que quer dizer vida que traz este significado.
Fazer bioconstrução é muito além do que fazer uma obra de baixo impacto, é planejar de maneira consciente para criar um ser vivo que interage de maneira sustentável e saudável com seu entorno, com os ecossistemas onde se localizam e com as pessoas que vivem ali.
A bioconstrução é então um ser vivo que preserva as condições naturais da vida, que consome recursos naturais e artificiais de maneira consciente, que se relaciona com os seres humanos, com outros seres vivos e construções sem gerar impactos e contaminação.
Dessa forma, estabelece uma relação direta com a preservação ambiental e com a saúde global.
Quanto custa casas bioconstruídas?
Uma edificação bioconstruída pode custar entre R $900/m2 até R $3500/m2. Esses valores variam de acordo com a disponibilidade de recursos, materiais locais e também com o nível de acabamento que se pretende para os ambientes projetados e construídos.
Além disso, existe um outro fator que interfere diretamente no valor investido que é o tempo pretendido para a obra. Quanto mais rápido você desejar ter sua bioconstrução pronta, mais pessoas e máquinas trabalhando na obra você vai precisar. Desta maneira você investirá mais na construção, porém mais rápido você poderá usufruir dos benefícios da sua dos ambientes bioconstruídos.
Quais são os impactos da construção civil no meio ambiente e na saúde das pessoas?
Impactos ambientais
Não é novidade que a construção civil é uma das atividades humanas mais impactantes para o planeta. Desde 2013, através dos dados da Fundação Dom Cabral, já sabemos que o setor das construções chegam a consumir mais de 43% de toda energia e mais de 74% de todos os recursos naturais do Brasil. Estes dados não se restringem ao território brasileiro.
Cerca de 50% de todo resíduo sólido do planeta é gerado pela cadeia produtiva das edificações, e cerca de 35% do consumo de energia e 15% do consumo de água global também é feito pelo setor das construções.
A USGBC (United States Green Building Council) destaca que uma bioconstrução, ou construção verde, chega a reduzir em até 50% o consumo de água e 30% do consumo de energia empregada em uma edificação, e além disso reduz até 35% das emissões de gás carbônico.
De acordo com artigo científico publicado pela equipe do Instituto Rever na revista international “Journal of Cleaner Production” em 2019, para construir 1 m² de parede convencional de bloco cerâmico gasta-se mais de 450 MJ (megajoule) de energia e produz mais de 60 Kg de CO² em todo ciclo de vida, já para o bloco de concreto temos um gasto médio de 650 MJ e produção de mais de 85 Kg de CO².
Ou seja, para construção de uma casa com paredes convencionais de 200m2 feitas de blocos cerâmicos ou blocos de concreto são lançados em média quantidades maiores que 23 toneladas de CO² na atmosfera. E para a mesma casa são consumidas uma média de 214 mil MJ de energia.
Comparativamente, se esta mesma casa fosse uma bioconstrução com paredes de terra, teríamos uma economia de energia incorporada de 50% e um terço da produção de CO².
Impactos dos sistemas construtivos e das edificações na saúde das pessoas
De fato, a geração e manutenção da saúde dos usuários e dos ambientes construídos com as técnicas saudáveis é um dos pontos mais importantes de uma bioconstrução .
Desde 1982 a OMS ( Organização Mundial de Saúde) considera a Síndrome do Edifício Doente como uma situação onde as pessoas apresentam sintomas graves devido a sua permanência em certas edificações.
De acordo com a GBC (Green Build Concil), hoje, 3 ou mais em cada 10 edificações podem ser consideradas doentes.
Esta situação de Edifício Enfermo é devido não somente pelo uso de técnicas, materiais e acabamentos tóxicos e contaminantes (vernizes e tintas a base de solvente, revestimentos de PVC, uso de madeiras compensadas e coladas, uso de carpetes sintéticos, excesso de ar condicionado , plásticos, concreto, etc) mas também pela falta de estratégias de conforto bioclimático como a carência de renovação e baixa qualidade interna do ar das edificações, incluindo o excesso de poluição de campos eletromagnéticos artificiais gerados nas mesmas.
Hoje, um dos principais fatores de doenças pulmonares de acordo com a agência de saúde dos EUA está relacionada com a baixa qualidade do ar interno das edificações com a presença de gases tóxicos (COV – Compostos Voláteis Orgânicos) nos ambientes construídos desprendidos e liberados por materiais de construção não saudáveis.
Também já sabemos através de dados de 2021 do IBGE ( Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que no Brasil a falta de técnicas adequadas de saneamento ou mesmo a sua inexistência nas edificações, são responsáveis por mais de 11 mil mortes, mais de 11 milhões de doenças e 4 milhões de internações no SUS (Sistema Único de Saúde) por ano.
No mundo inteiro, de acordo com o water.org, só em 2021 estima-se que a falta de saneamento adequado e água de qualidade foi responsável pela morte de mais de 290 mil crianças com até 5 anos de idade.
Os dados analisados pelo Instituto Trata Brasil nos indicadores de 2020 do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) e publicados na 14º edição do Ranking do Saneamento, ainda são mais preocupantes.
No relatório do final de março de 2022 constatou-se que 50% do volume dos esgotos do Brasil não recebe tratamento adequado e são descartados diretamente no meio ambiente somam-se mais de 10 bilhões de litros de esgotos sendo descartados diariamente sem nenhum tratamento na natureza.
6 Vantagens em utilizar bioconstrução
1 – Maior Sustentabilidade
As edificações bioconstruídas são sustentáveis, econômicas, rentáveis e promovem a preservação ambiental devido a preferência ao uso de materiais mais naturais, recursos renováveis e menos processados industrialmente.
Além de menor consumo de energia devido a estratégias de bioclimática, paredes mais térmicas e reuso da água de chuva e dos esgotos tratados para irrigação;
2 – Mais saudável
São edificações saudáveis pois utilizam o mínimo possível de materiais tóxicos e contaminantes para seus usuários e para pessoas envolvidas na obra como também no ciclo de vida de cada recurso utilizado. Para isso são utilizados, por exemplo, materiais mais naturais, revestimentos e mobiliários sem toxinas, tintas de terra e vernizes à base de água;
3 – Menor energia incorporada
Tem um menor consumo de energia incorporada em suas partes e menor emissão de gases do efeito estufa pois preza pela utilização de materiais naturais locais diminuindo a energia necessária para fabricação destes e a necessidade de transportes a longas distâncias com emissões de gases do efeito estufa;
4 – Mais personalizadas
Geram espaços funcionais, com estética personalizada e contextualizada para o público alvo e para os locais em que são construídas. Uma bioconstrução sempre tem relação direta com as demandas de seus ocupantes e com as possibilidades físicas e climáticas do terreno e da região;
5 – Menor consumo e poluição da água
Geram menor consumo e contaminação da água durante a obra e durante o tempo de uso da edificação, pois utilizam captação de água de chuva, vasos sanitários de duplo fluxo, aeradores nas torneiras e lavatórios, sistemas de saneamento ecológicos com reuso de efluentes (esgotos líquidos) para produção de alimentos, irrigação e também para descargas em vasos sanitários;
6 – Maior durabilidade e resistência
São obras resistentes e super duráveis pois prezam pela sustentabilidade a longo prazo e utilizam materiais como a terra para fazer paredes. Como é conhecido, existem obras de terra com mais de 600 anos em uso até hoje com poucas manutenções e em perfeito estado, como é o caso das cidades históricas no Brasil, mesquitas na África e Europa, e até mesmo a Grande Muralha da China.
6 Desvantagens de utilizar bioconstrução
1 – Pouca padronização
São edificações com pouca padronização, pois todo o planejamento, projeto e execução têm relação direta com o contexto do terreno e necessidades específicas do público alvo;
2 – Mão de obra especializada
Como são utilizadas técnicas e materiais mais naturais e menos industrializados existe a necessidade de contar com mão de obra especializada ou assessoria com profissionais experientes e capacitados para que ela seja realizada corretamente;
3 – Cuidados específicos
Necessitam de cuidados específicos como por exemplo atenção na execução de beirais generosos nas coberturas, telhados e proteção na base das paredes de terra para resguardar da chuva e respingos dos telhados.
4 – Preconceitos sociais
Apesar de não ser verdade, existe preconceito de que esse tipo de edificação não é durável e tem um acabamento ruim. Isto, devido à ocorrências de obras feitas por pessoas em situações emergenciais ou que não tem conhecimento técnico adequado;
5 – Necessidade de mais espaço
Quando são utilizadas paredes de terra mais espessas como as feitas de taipa de pilão ou terra ensacada (hiperadobe ou superadobe), essas construções ocupam um maior espaço na implantação nos terrenos;
6 – Uso de tecnologias mais caras
O uso de tecnologias contemporâneas para trazer mais sustentabilidade para uma bioconstrução pode fazer com que esse tipo de obra se torne mais oneroso em sua construção apesar de as tornarem mais econômicas e rentáveis ao longo do tempo.
A exemplo disso podemos citar um maior investimento inicial em placas fotovoltaicas, aquecimento solar de água para chuveiros, sistemas de captação de água de chuva e construção de telhados verdes produtivos;
Diferença da Bioconstrução e da construção ecológica e sustentável
Nos tempos contemporâneos a bioconstrução traz um diferencial além da preservação ambiental tão difundida por movimentos voltados para preservação ecológica, arquitetura vernacular, bioclimática, ergonomia e sustentabilidade.
Uma bioconstrução, diferentemente dessas outras abordagens, considera a construção e a edificação como um ser vivo. Dá foco, não só para a preservação da natureza como a maioria dos movimentos de construção ecológica e sustentável, mas principalmente atende ao bem-estar, saúde e equilíbrio das relações entre as pessoas, todos os seres e os ecossistemas habitantes do núcleo e do entorno dos espaços construídos.
Como fazer uma arquitetura sustentável?
A arquitetura sustentável é feita através de um bom projeto arquitetônico pautado no planejamento consciente e no uso correto de materiais e técnicas que não geram degradação ambiental durante a execução da obra e nem com o uso dos ambientes construídos.
Para a arquitetura ser sustentável ela deve preservar as condições naturais dos ecossistemas para que as gerações futuras possam também suprir suas necessidades. Para tanto é essencial um estudo do ciclo de vida de cada material construtivo, uso de estratégias bioclimáticas, dar preferência pela utilização de materiais locais e renováveis para assim garantir o funcionamento de uma arquitetura menos poluente e contaminante possível.
5 Cursos sobre sustentabilidade na arquitetura que você pode fazer.
Uma das bases da bioconstrução é a sustentabilidade nos projetos arquitetônicos. Aqui vou deixar 5 dicas de cursos para você que pretende se aprofundar nesse tema:
Curso 5) Pós-Graduação a Distância em Arquitetura, Construção e Gestão de Edificações Sustentáveis da Unyleya
O curso online em Arquitetura Sustentável da Unyleya é indicado para profissionais que desejam ter conhecimento em gestão e construção de edificações sustentáveis. Ele promove os conhecimentos necessários para que os agentes públicos e profissionais possam gerir e propor legislação de incentivo para construções sustentáveis.
Para você que tem interesse neste, basta procurar o site da bolsasead.com.br.
Curso 4) Curso online de Arquitetura Sustentável do Portal e Educação
Esse é um curso online básico e introdutório sobre arquitetura sustentável para você que quer ter um primeiro contato com esse universo da arquitetura sustentável.
https://www.portaleducacao.com.br/curso-online-engenharia-e-construcao-arquitetura-sustentavel/p
Curso 3) Curso Materiais Sustentáveis GBC
Green Building Council é uma instituição que fomenta as construções verdes no mundo com foco nas certificações de edificações sustentáveis através do selo LEED.
Nesse curso on-line você aprende como direcionar as escolhas e estratégias de projeto e do uso de materiais sustentáveis para conseguir certificar seu empreendimento e edificação com os selos LEED e GBC – CASA & CONDOMÍNIO. https://www.gbcbrasil.org.br/curso/materiais-sustentaveis-online/
Curso 2) A Pós Graduação em Sustentabilidade da UFMG
Essa é a especialização que o Departamento de Tecnologia da Arquitetura e do Urbanismo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) oferece. A Biohabitate já ministrou aulas sobre bioconstrução nessa especialização. O foco da especialização não é a bioconstrução em si, mas é indicada para profissionais que atuam (ou desejem atuar) na área da construção civil, design e urbanismo ligados à sustentabilidade. O curso é presencial realizado em salas de aulas da faculdade de arquitetura da UFMG em Belo Horizonte MG.
https://sites.arq.ufmg.br/ea/ensino/cursos/especializacao-em-sustentabilidade/
Curso 1) Curso Bioconstrução Profissional de A a Z da Biohabitate
Este é o curso de Bioconstrução referência e mais completo do Brasil. O curso é totalmente online, com foco integral na bioconstrução como ferramenta para promover a saúde dos usuários, dos ambientes construídos e também na preservação ambiental e sustentabilidade desde o projeto até o uso da edificação.
O curso da Biohabitate é indicado para profissionais que desejam se tornar especialistas em bioconstrução e também para pessoas que têm interesse em empreendimentos sustentáveis ou ter suas próprias casas bioconstruídas.
É um curso online em que o participante pode estudar onde e quando quiser e já iniciar suas práticas ao assistir cada uma das aulas hospedadas na plataforma do curso.
O curso é voltado para o aprendizado de estratégias de projeto, bioclimática e execução de obras com técnicas como taipa de pilão, pau-a-pique, adobe, hiperadobe, bambu, saneamento ecológico, telhados verdes, detalhes construtivos e postura profissional na bioconstrução.
Com os aprendizados do curso online, o estudante se aprimora e potencializa a qualidade de suas práticas no canteiro de obras, uma vez que já tem a teoria necessária para planejar, gerir e executar uma bioconstrução com qualidade profissional.
https://biohabitate.com.br/bioconstrucao-curso/
O que é Arquitetura vernacular?
Arquitetura vernacular consiste na arquitetura que usa recursos regionais e locais. Para fazer arquitetura vernacular deve se usar os materiais, potências e técnicas encontradas em cada local e região.
Dessa maneira a arquitetura vernacular traz uma relação com as formas tradicionais de se fazer arquitetura, representando a estética, costumes e cultura de habitação de cada povo e suas características regionais. As construções com terra, palha, piaçava, bambu, madeira e fibras são exemplos de materiais usados nas arquiteturas vernaculares.
Alguns dos mais incríveis exemplos de arquitetura vernacular são:
- Casas Tulou, povos Hakka em Fujian (China)
- Ocas dos índios do Xingu (Brasil):
- Tempos de Mali (África)
- Ilhas Flutuantes de Uros (Peru)
- Casas de terra tribo Gurunsi em Burkina (África)
- Casas de Turfa (Islândia)
- Casas de Palafitas da Amazônia (Brasil)
- Casas de Bambu (Colômbia)
- Edifícios de terra em Shibam (Iêmen)
- Casas Trull em Alberobello (Itália)
- Casas de Taipa de Pilão (Brasil)
- Casas de pau a pique (Brasil)
- Casas de adobe (Brasil)
- Casas de madeira e palha (Brasil)
O que são casas bioclimáticas? Exemplos e conceitos
As casas bioclimáticas são edificações feitas com técnicas de projeto e planejamento com foco nas soluções de conforto climático, bem estar, desempenho energético e eficiência termoacústica a partir das condições naturais do clima local.
Estas casas são mais econômicas e consomem menos energia elétrica para iluminação, calefação ou resfriamento do ar por uso de ar condicionado. Para isso, elas são projetadas com ventilação cruzada, aquecimento e resfriamento passivo e são construídas levando em consideração os ventos dominantes, insolação, umidade e temperaturas do local nas diferentes épocas do ano.
Veja aqui abaixo alguns exemplos de casas bioclimáticas:
O que são casas passivas na bioconstrução?
Casas passivas são aquelas projetadas para gerar conforto térmico durante todas as épocas do ano através da escolha correta da localização de implementação no terreno, da captura dos ventos dominantes, da umidade, da insolação e das sombras do entorno. Tudo isto através de uma adequação com o clima do local e intensificadas pela escolha certa dos materiais de construção e das técnicas projetuais.
Desta maneira, estas casas são amigas do meio ambiente pois ajudam a combater o aquecimento global, além de serem amigas do bolso de seus moradores e usuários. Com esse tipo de estratégia elas diminuem em até 90% o consumo de energia e aumentam em até 100% o conforto térmico nos ambientes internos.
Em épocas onde o clima e as temperaturas estão extremas e com variações cada vez maiores durante o ano, em que os valores da energia e dos combustíveis disparam e a degradação ambiental só aumenta com o consumo de recursos não renováveis e de combustíveis fósseis, esse tipo de casa é mais que necessário. E isto não deve ser uma preocupação só dos usuários e moradores, mas principalmente dos arquitetos, projetistas e construtores.
É aí que entra a bioconstrução com técnicas projetuais e com o uso de materiais naturais, renováveis e que tem uma excelente contribuição para o conforto térmico passivo dos ambientes além de uma drástica diminuição no consumo de energia incorporada também no ciclo de vida de cada material.
O uso de coberturas com telhados verdes, que contêm plantas e uma camada de substrato, a opção pelo uso de paredes de terra, feitas com taipa de pilão, adobe, pau-a-pique, hiperadobe, conferem para esse tipo de casa um excelente conforto térmico.
Nessas casas a estratégia principal é fazer com que a própria arquitetura faça o papel de manter a casa aquecida nos meses mais frios e proporcionando aos ambientes uma temperatura agradável e fresca nos meses mais quentes. E isto, de maneira passiva, sem precisar de dispositivos e equipamentos de calefação e ar condicionado.
O que é arquitetura e construção com terra?
Arquitetura de terra é o planejamento e desenvolvimento de projetos arquitetônicos para construção de ambientes com o uso predominante da terra sem queima (terra crua) como principal material de construção das paredes, rebocos, tintas e até de pisos e lajes.
Adobe, pau-a-pique, taipa de pilão, terra ensacada (hiperadobe e superadobe) e cob (terra empilhada) são os principais exemplos de técnicas para construção de paredes de terra.
Porque a construção com terra é menos impactante?
Considerando que as paredes compõem a maior parte de uma edificação, a construção com terra possui menos de 80% dos impactos ambientais do que as construções convencionais. Isto se deve pelo fato das paredes serem construídas com terra, um dos materiais mais abundantes, renováveis e naturais do planeta.
E com a alta disponibilidade nos locais da construção, minimiza ainda os altos impactos com transportes. E além disso as paredes de terra são mais térmicas, menos tóxicas, menos contaminantes e tem baixo consumo de energia incorporada.
Para se ter uma ideia do impacto ambiental das construções convencionais que não usam a terra crua como material construtivo, para a produção de 1000 tijolos cerâmicos furados é necessário uma quantidade de carvão relativa a 7 árvores adultas para serem queimados nos fornos das olarias.
Para a produção de apenas uma unidade desse tipo de tijolo, são liberados em média 300 gramas de CO² na atmosfera. Isto somente para ser queimado em forno e transformado de argila para cerâmica.
Os dados que indicam índices de degradação ambiental para construção de uma casa de até 200m2 são imensos, e isto se contabilizarmos o impacto somente da queima dos tijolos cerâmicos, sem contar transportes e toda energia incorporada no ciclo de vida desses tijolos.
Como dito, para construir uma casa de 200m2 são necessárias uma média de 70 árvores adultas para queima dos tijolos usados nas paredes, o que libera mais 8,5 toneladas de CO² na atmosfera (Carvalho 2013).
Considerando uma produção em larga escala desses tijolos cerâmicos, uma olaria de médio porte consome aproximadamente 24 mil árvores adultas e libera mais de 240 mil toneladas de CO² na atmosfera por mês.
O impacto da construção civil na atualidade é algo alarmante e ela é responsável por mais de 50% de toda degradação do planeta, e estes dados são uma das provas disso (Carvalho 2015).
Dessa maneira, construir com terra contribui na preservação de imensas áreas de florestas nativas, principalmente do cerrado brasileiro que é alvo do desmatamento para extração de madeira a ser transformada em carvão e usada nas olarias para queimar tijolos.
Além disso, a escolha por construir paredes de terra é aliada na regressão do aquecimento global, deixando de lançar milhões de toneladas de CO² anualmente na atmosfera.
Qual a relação da bioconstrução com a arquitetura da terra?
A bioconstrução deve ser pensada para ter altos graus de sustentabilidade, conforto bioclimático, conforto dos usuários e portanto o menor impacto possível no meio ambiente e na saúde dos usuários. Por esse motivo, a bioconstrução considera e prioriza o uso de materiais naturais e menos nocivos, e é aí que entra em cena a construção com terra sem queima para o envoltório (paredes) das edificações.
A execução de paredes com terra sem queima são muito menos impactantes.
As paredes são as partes mais significativas de uma edificação, do contato com ambiente externo e também com os ambientes internos e seus usuários.
A escolha correta dos materiais das paredes diminui muito o impacto total de uma construção e aumenta muito seu aspecto sustentável e de salubridade, uma vez que as paredes e seus revestimentos compõem mais de 70% dos materiais totais dos ambientes construídos.
Vantagens econômicas entre o cimento VS construção com terra
construção com terra tem potencial de ficar 50% mais barata que as construções que usam o cimento como material de construção predominante.
Enquanto uma casa que usa o cimento nas paredes, nas argamassas, nos revestimentos, nos pilares e vigas de concreto armado chega a custar até R$ 3500/m2, uma construção com as mesmas dimensões porém com paredes estruturais de terra (que não precisam de pilares e vigas de concreto), com revestimentos e argamassas de terra chega a custar até R$ 1750/m2, ou seja, uma construção usando a terra como principal material construtivo pode chegar a ter a metade do custo total no seu processo construtivo, comparativamente.
E as vantagens não param por aí, uma construção com terra é mais econômica ao longo do tempo pois são mais térmicas e confortáveis que as construções feitas com o uso do cimento.
A casa de terra é mais fresca em épocas quentes e mais aquecida em épocas frias, não necessitando de gastos de energia para calefação artificial ou resfriamento com ar condicionado.
Por serem mais sustentáveis e rentáveis a curto e longo prazo, o valor de venda e aluguel de casas sustentáveis e ecológicas feitas de terra têm uma valorização de 15% maior se comparadas às obras convencionais feitas só com cimento e materiais convencionais.
É seguro utilizar bioconstrução em áreas do Brasil com alto índice de chuvas?
Bioconstrução com paredes de terra podem ser executadas em todos os tipos de clima, incluindo as regiões com altos índices de chuva e umidade.
O que se deve levar em consideração é o uso de telhados com beirais generosos para proteger as paredes de chuvas intensas e de possíveis enxurradas vindas de cima para baixo na superfície das paredes.
Deve-se realizar uma impermeabilização sobre a fundação e também nas bases das paredes com no mínimo 40cm de altura em relação ao terreno natural, para isso podemos usar a chamada parede de arranque, feita com materiais resistentes aos respingos de água provenientes das chuvas de vento e das pingadeiras dos telhados.
Proteger a base das paredes com o que chamamos popularmente de boas “botas” e o topo das paredes com o que chamamos de um bom “chapéu” é o suficiente para bioconstruir uma casa de terra segura e durável em locais com muitas chuvas.
Posso fazer domos ou cúpulas de terra com hiperadobe, superadobe ou adobe?
Executar a cobertura de uma edificação com terra usando domos ou cúpulas de adobe, hiperadobe ou superadobe é contra indicado para regiões tropicais ou equatoriais como o Brasil, mesmo que as chuvas sejam concentradas em apenas uma parte do ano.
E isto se agrava muito quando feita por pessoas com pouca experiência em construção com terra e impermeabilização. Substituir telhados com telhas cerâmicas ou telhados verdes por coberturas de terra pode ser perigoso e requer muitas manutenções a médio e longo prazo.
Este tipo de edificação, em países como o Brasil que não possuem clima desértico e sim elevados índices de chuvas, podem trazer sérios danos à impermeabilização da cobertura feita de terra. Assim, as infiltrações causarão problemas estruturais na superfície das cúpulas e com isso toda edificação pode entrar em colapso. Mesmo sendo coberturas estéticamente atraentes, pense 1000 vezes antes de escolher domos ou cúpulas de terra para a cobertura da sua obra ou de seus clientes.
Por que utilizar pata de elefante, parede de arranque, para proteger paredes de terra contra os respingos do telhado?
A base de qualquer parede é a parte que segura todo peso da edificação, e também é a base da parede que liga a edificação à sua fundação e ao terreno.
Dessa maneira, toda obra, de terra ou não, deve ter as bases de suas paredes resistentes, estáveis, protegidas da umidade ascendente do subsolo e também dos respingos das calhas do telhado e das chuvas de vento.
Para essa proteção nas bases das paredes de terra é imprescindível impermeabilizar o topo da fundação antes de começar a parede de terra como também executar o que chamamos de patas de elefante ou paredes de arranque.
Patas de elefante consiste em executar um acabamento mais largo e impermeável com no mínimo de 40cm de altura em relação ao nível do terreno natural, para assim proteger as bases das paredes de qualquer umidade que possa danificá-las. O nome pata de elefante é usado como uma alusão às patas resistentes e largas dos elefantes.
Quem vive perto de rios pode construir utilizando bioconstrução?
Não existe restrição para utilizar técnicas de bioconstrução quando seu terreno ou de seu cliente é próximo de rios, lagoas ou cursos de água.
O que deve ser feito quando se escolhe paredes de terra para uma bioconstrução, próximo ou não de rios, é proteger as bases das paredes com impermeabilização na parte superior da fundação e executar paredes de arranque resistentes à água (patas de elefante) com no mínimo 40cm de altura.
Estes cuidados somados a telhados com beirais generosos e bem projetados são essenciais em todas as edificações bioconstruídas com terra, pois assim se garante proteção na base das paredes contra a umidade ascendente do subsolo, dos respingos de telhado e das chuvas de vento.
Devido a conservação da umidade, casas construídas assim são mais propensas a mofo? ( Como evitar? )
Existe um mito que casas construídas com terra são mais propensas a mofar, porém a verdade é justamente ao contrário.
As paredes de terra revestidas também com rebocos e tintas de terra ou cal e areia possuem uma propriedade chamada de higroscopia. Ou seja, elas permitem que o ar, contendo umidade, atravesse as paredes por elas serem mais porosas do que aquelas construídas com tijolos cerâmicos, blocos de concreto, rebocos convencionais de cimento e areia e tintas comuns.
A higroscopia permite que as paredes de terra respirem através da troca de ar entre o interior e o exterior dos ambientes e por isso acontece uma regulação natural da umidade e da temperatura nos ambientes da edificação.
Como a umidade pode entrar e sair pelas paredes, uma casa de terra não prende a umidade nos ambientes, o que não propicia o aparecimento de mofo assim como em uma casa feita com alvenaria convencional.
Com isso as casas feitas com paredes de terra são mais saudáveis e mantém a umidade regulada naturalmente em seu interior, não favorecendo doenças respiratórias e alergias.
Mas cuidado com um importante detalhe, quando for construir paredes de terra lembre-se de escolher rebocos e tintas que também sejam higroscópicos para que a umidade não fique presa nas paredes.
Rebocos minerais de terra ou de cal e areia são uma ótima escolha para esses casos. Além disso, tintas de terra também são importantes pois mantêm a propriedade higroscópica das paredes de terra.
Mas lembre-se quando for escolher ou fazer sua tinta de terra, não use mais de 15% de cola branca PVA na mistura pois isso fará com que sua tinta “plastifique” a parede e tampe os poros da superfície que são necessários para que a parede continue a respirar.
A casa do joão de barro é exemplo de bioconstrução? O que podemos aprender com ele?
Os animais e insetos são grandes exemplos de bioconstrutores. Eles utilizam de maneira muito eficiente os materiais naturais disponíveis nos locais onde fazem suas casas.
A casa do passarinho João de Barro é um belo exemplo de bioconstrução feita com terra. Ele primeiro procura uma terra adequada disponível na sua região, depois escolhe um galho de uma árvore ou local adequado e seguro para a construção.
Ele recolhe a terra e mistura com pequenos gravetos e fibras e começa a construção da sua casa, sempre com a porta voltada contra as chuvas de vento. Com o bico ele molda a terra e sua baba confere resistência à terra para que ela não derreta em épocas de chuva.
A anatomia da sua casa em forma de cúpula também a torna bem segura e resistente às intempéries e possíveis impactos como galhos caídos e ataques de outros animais.
É mito ou verdade que casas bioconstruídas são refúgios do inseto barbeiro?
Não é verdade que casas bioconstruídas com terra são refúgios do inseto barbeiro. O que acontece é que os barbeiros procuram buracos ou frestas nas paredes para se esconderem.
Porém, o barbeiro não escolhe só paredes de terra para se instalar e sim qualquer buraco incluindo aqueles em paredes de alvenaria convencional.
O cuidado que se deve ter em regiões onde existe esse tipo de barbeiro é fazer um bom revestimento, rebocando as paredes sem deixar frestas que possam servir de esconderijo para os barbeiros, e isso para qualquer tipo de parede, não só para aquelas feitas de terra.
Esse mito surgiu pois muitas casas de terra feitas em zonas rurais foram construídas em caráter emergencial ou em situações de carência, sem conhecimento e revestimentos adequados. Contudo, toda casa de terra, incluindo de pau-a-pique, adobe e taipa de pilão, podem ser executadas com bons acabamentos que não deixam buracos na superfície das paredes para esconderijo desse inseto.
Quais são os produtos químicos usados para que as casas com terra não tenham problemas com insetos?
Não há necessidade de usar produtos químicos em casas feitas de terra para que essas não tenham problemas com insetos.
O que deve ser feito é proteger as paredes com bons revestimentos, rebocos e tintas para deixar as superfícies das paredes bem acabadas e sem buracos e frestas que possam servir de caminhos ou esconderijos de insetos.
O uso de rebocos e tintas a base de cal também ajudam, pois assim as paredes não se tornam atrativas para formigas e cupins fazerem delas um refúgio ou caminhos para chegarem nas madeiras do telhado por exemplo.
Além disso, é importante, assim como nas casas convencionais, sempre que encontrar insetos tentando subir nas paredes, tirá-los e fazer o controle adequado assim como em qualquer tipo de casa.
O que é permacultura e qual relação com a bioconstrução?
A permacultura surgiu na década de 70 como um método de agricultura permanente criado pelos cientistas australianos Bill Mollison e David Holmgren.
Desde então ela foi aprimorada e passou a ser mais que só um método de agricultura, e sim um estudo que propõe assentamentos humanos organizados com base em uma “cultura permanente”.
As bases da permacultura são: cuidar da terra, cuidar das pessoas e repartir os excedentes.
Para isso, a permacultura envolve não só às demandas alimentares e de produção agrícola, mas também a relação das diversas formas de ocupação e necessidades humanas em uma propriedade, assim como a organização socioespacial, a produção de alimentos e recursos, a preservação ambiental e a necessidade de moradia.
Esse último fator da moradia é onde a bioconstrução se relaciona diretamente com a permacultura, servindo como um instrumento complementar para viabilizar a “cultura permanente”.
Para a permacultura, a bioconstrução é a ferramenta necessária para criar edificações e assentamentos humanos que sejam sustentáveis e favoreçam o desenvolvimento da “cultura permanente” com cuidado com a terra e com as pessoas.
Ou seja, edificações que preservam a saúde, os recursos e os ecossistemas.
E isso sem gerar degradação ambiental e sem acabar com os bens essenciais para suprir as necessidades da sociedade de hoje e das futuras gerações.
Mas como é feita a permacultura e como a bioconstrução é aplicada nela?
A permacultura é feita organizando e planejando as necessidades humanas em uma propriedade para que ela, além de suprir as necessidades, estabeleça uma “cultura permanente”.
Para aplicar a bioconstrução dentro do planejamento permacultural deve-se considerar princípios para que os assentamentos humanos e as edificações sejam as mais sustentáveis possíveis e em equilíbrio com os ecossistemas locais.
Para iniciar um design permacultural em um terreno é necessário dividir o terreno disponível em zonas de acordo com interação humana e suas funções, levando em conta os princípios de cuidado com a terra e com as pessoas, e isso deve incluir as técnicas construtivas. Desta maneira a bioconstrução é uma ferramenta indispensável para um planejamento permacultural completo e íntegro.
É mais rápido construir uma casa de bioconstrução? Qual o tempo de obra para bioconstruir uma casa completa?
O tempo para a fase de incorporação (construção desde o planejamento) de uma obra de bioconstrução é igual ao de uma obra convencional considerando os mesmos fatores e contexto envolvidos.
O que faz a duração de uma obra de bioconstrução variar são os mesmos fatores que também balizam o tempo de uma obra comum.
Os 6 principais fatores que determinam o tempo de uma obra convencional ou de bioconstrução são:
- Tamanho e complexidade da casa a ser construída;
- A qualidade do projeto e o planejamento prévio para que a logística e gestão da obra sejam pré definidas e não falte materiais, mão de obra e decisões corretas em cada etapa;
- Disponibilidade dos materiais de construção na região e no canteiro de obra de acordo com a necessidade de cada parte da obra;
- Disponibilidade de mão de obra especializada para cada etapa e técnica a ser realizada no decorrer das etapas;
- Quantidade de trabalhadores envolvidos em cada uma das partes e etapas da obra;
- Capacidade, experiência e nível de conhecimento técnico da mão de obra contratada para execução de cada técnica e partes da obra pré definidas no projeto.
Considerando estes fatores listados acima, o tempo de execução de uma casa de bioconstrução completa com 100m2 pode variar entre 4 a 7 meses. Já uma casa de 250m2 pode durar entre 5 a 10 meses.
Qual relação da bioconstrução com a autoconstrução?
A autoconstrução é o processo construtivo no qual os próprios futuros moradores constroem suas casas, ou seja, colocam literalmente a mão na massa durante a obra. Em diversas partes do mundo a arquitetura vernacular tradicional foi realizada pelas pessoas da própria comunidade que se uniam para construírem as suas casas.
Dessa maneira os moradores sempre estavam envolvidos diretamente com a execução de suas próprias casas, sempre com uso de materiais locais e naturais.
Como a bioconstrução também prioriza materiais naturais e disponíveis no local da obra, existe um resgate da autoconstrução em alguns movimentos de bioconstrução contemporâneos espalhados pelo mundo.
Assim, muitas pessoas que optam pela bioconstrução, tem o desejo de estarem envolvidos diretamente na construção das suas casas ou até mesmo realizarem toda obra sozinhos.
E isso, por um lado, é muito positivo pois entrega autonomia, soberania e direito à moradia de maneira menos hierarquizada, principalmente para classes sociais menos favorecidas da sociedade.
Por outro lado, existe uma ideia errada de que qualquer pessoa está capacitada tecnicamente para realizar uma bioconstrução sem ajuda de profissionais experientes e capacitados para cada tipo de técnica e material escolhidos.
Existe muita polêmica nos movimentos de bioconstrução envolvendo a autoconstrução. Isto porque pessoas que nunca realizaram uma obra, fazem um curso ou vivência de bioconstrução de final de semana por exemplo, e já querem se tornar professores de técnicas de bioconstrução ou construir sua própria casa sem conhecimento técnico e experiência adequada.
Por esse motivo, existem muitas bioconstruções sendo realizadas de maneira incorreta com as técnicas sendo mal executadas e consequentemente com resultados não satisfatórios e até mesmo com risco iminente estrutural ou outro. Isto tem manchado a imagem das bioconstruções pelo mundo criando um estereótipo negativo, como se toda bioconstrução fosse mal feita e mal acaba.
É importante salientar que como qualquer obra, uma bioconstrução precisa ser executada com qualidade técnica para que seja segura e não apresentar patologias e manutenções constantes. Uma bioconstrução realizada por quem não tem experiência pode se tornar perigosa, causar acidentes e não ter a qualidade e o nível de acabamentos desejados.
Além disso, deve-se atentar para o fato de que pela lei, toda obra precisa ser assinada por um responsável técnico. Assim, você pode sim se envolver na obra da sua casa e realizar partes com a autoconstrução, porém nunca faça isso sem ajuda de um profissional qualificado e capacitado legalmente para isso.
Quando uma casa bioconstruída ainda em andamento fica pela metade, é preciso proteger da chuva?
Quando se faz uma bioconstrução utilizando paredes de terra é muito importante, depois do final do dia de trabalho, proteger sua obra de uma possível chuva. Mesmo que a época não seja de chuvas constantes pode acontecer uma chuva inesperada e fragilizar as paredes que já estão executadas.
E isto não deve ser uma opção e sim uma regra para toda obra executada tendo a terra como principal material de construção. Da mesma maneira, as obras que são executadas por etapas em partes e ficarão um tempo esperando o recomeço, devem ser protegidas das chuvas ou planejadas para que o telhado seja executado antes de interromper o processo construtivo das paredes.
O que acontece se uma parede de terra ficar desprotegida e pegar chuva?
Quando uma obra de terra fica desprotegida e pega chuva, as paredes ficam encharcadas, se fragilizam e podem ficar instáveis a ponto de não ser indicado continuar a execução das paredes de maneira segura. Por esse motivo, nunca deixe uma obra de terra desprotegida da chuva, mesmo em épocas de seca, pois chuvas inesperadas podem acontecer.
A água da chuva interage com as partículas de argila que são responsáveis pela coesão e estabilidade da massa que compõem as paredes da terra. As argilas se dilatam quando são molhadas e depois retraem quando secam.
No preparo da massa antes de executar as paredes, este processo de umidificação é necessário para que as argilas trabalhem e façam seu papel de dar coesão nas demais partículas da terra usada.
Porém, quando a interação com a água acontece depois da parede já executada, isso causa uma movimentação na parede que não é bem vinda podendo causar fissuras, trincas, instabilidade estrutural e até o colapso da parede como um todo.
Posso executar uma bioconstrução sem projeto e somente escolher os materiais naturais e locais que tenho afinidade?
A bioconstrução não é apenas a escolha de técnicas e materiais naturais para uso na obra em si, mas sim e principalmente o planejamento e escolhas de soluções projetuais adequadas para que cada material seja funcional e tenha um desempenho eficaz a curto, e também a longo prazo.
Para que uma edificação seja sustentável e saudável é essencial um projeto e uma gestão bem feita visando o bom desempenho de cada material e técnica escolhidos, principalmente depois da obra terminada.
Então devemos compatibilizar o uso de técnicas e materiais renováveis, naturais e locais com um bom projeto arquitetônico que considere a longevidade, estabilidade, contexto e qualidade no uso de cada material escolhido.
Não adianta escolher usar o bambu ou o adobe, por exemplo, sem fazer uma boa fundação ou um bom projeto que considere o contexto local e o uso correto e adequado de cada um desses materiais.
Imagine escolher fazer os pilares do seu projeto de bambu mas não projetar adequadamente para que estes bambus fiquem protegidos da incidência de sol direto, da chuva e da umidade do subsolo.
Não adianta escolher paredes de terra e não planejar a proteção das bases da parede contra a umidade do terreno natural e das chuvas de vento.
Se você escolher técnicas pura e simplesmente pela economia na obra ou pela ideologia, sem dar atenção para os ventos, chuvas e insolação do seu terreno, sua casa pode se tornar, ao invés de obra sustentável, uma edificação não durável, cheia de patologias, com manutenções constantes, gastando assim muito mais material e com o tempo e se tornando insustentável a médio e longo prazo.
Além de tudo, pode trazer mais impacto ambiental do que se o uso de cada material fosse conciliado com o contexto local, com um bom planejamento e execução adequadas.
É muito melhor investir em um bom projeto com soluções seguras e qualidade de execução para cada técnica de bioconstrução do que pensar em apenas uma economia direta no processo construtivo em si.
Quais são os tipos e técnicas de bioconstrução?
Bioconstrução é toda edificação planejada e projetada para ser sustentável, saudável e portanto, o menos impactante possível para o meio ambiente, para a estrutura urbana e para as pessoas que ocupam os ambientes. E isso não somente no processo construtivo, mas principalmente depois da obra concluída e durante o uso da edificação pronta.
A escolha de técnicas e materiais adequados durante o planejamento e projeto é um passo imprescindível para que a edificação seja considerada uma bioconstrução e possa ser materializada para ser amiga das pessoas e do meio ambiente.
Aqui abaixo listamos 10 principais técnicas e materiais que você pode considerar para materializar uma edificação bioconstruída:
- Planejamento Bioclimático;
- Telhados verdes com produção de alimentos;
- Materiais naturais, com baixa energia incorporada e de fontes renováveis;
- Construção com terra em paredes de adobe, taipa de pilão, pau-a-pique, hiperadobe, tijolo de terra comprimida (BTC) e cob;
- Saneamento ecológico com reuso dos esgotos tratados na edificação;
- Revestimentos e acabamentos de terra ou com materiais atóxicos e não contaminantes;
- Uso do bambu para estruturas, mobiliário e acabamentos;
- Produção de energia elétrica fotovoltaica;
- Captação, armazenamento e uso das águas de chuva;
- Aquecimento solar da água;
Qual o passo a passo para uma obra de bioconstrução?
Agora vou te contar como é o passo a passo para fazer uma bioconstrução. Seguir cada uma dessas etapas é essencial para que, não só durante a obra, mas também durante toda vida útil sua edificação seja uma bioconstrução eficaz, funcional com desempenho e níveis de sustentabilidade e salubridade adequados.
Passo 01 – Planejamento e Projeto
Toda bioconstrução começa com um estudo minucioso do contexto do local, cultura e demandas do público alvo. Esse estudo é o primeiro passo e ponto de partida de um bom projeto e planejamento.
Após isso, ainda no planejamento, todas as estratégias projetuais, materiais e técnicas são escolhidas de acordo com o tempo de uso da edificação depois da obra em si. Planejar e projetar é conceber o que será realizado durante a obra para garantir as características e funções desejáveis durante o tempo de uso da edificação.
Passo 02 – Estratégias Bioclimáticas
Neste passo, deve-se estudar as condições e características climáticas da região onde o projeto será materializado. Estudo da insolação no terreno em diferentes partes do dia e do ano, direção dos ventos dominantes, umidade do ar, quantidade e intensidade das chuvas são pontos relevantes e importantes para que a edificação seja térmica, confortável e tenha eficiência energética.
Passo 03 – Localização
Depois de um estudo bioclimático prévio, o próximo passo é a escolha da localização da obra de bioconstrução no terreno, a implantação. Essa escolha é definida não só pelas condições climáticas citadas no passo anterior, mas também pela facilidade do acesso, áreas de possível alagamento, áreas de preservação ambiental e áreas de propensas a incêndios.
A partir disso, você deve escolher em qual parte do terreno será o melhor local para a posição da edificação e qual será a direção mais adequada das aberturas de portas e janelas para uma interação adequada com o clima do entorno e maior eficácia das funções dos diferentes cômodos.
Por exemplo, a escolha da posição dos quartos e direção das janelas para receber o sol da manhã são bem vindas, assim como atenção para as vistas das paisagens do entorno. A posição e o tamanho das janelas de cada cômodo, possibilitando a captura dos ventos dominantes para ventilação cruzada e renovação natural do ar interno também são super bem vindos.
Passo 4 – Escolha das técnicas e materiais
Existe uma ideia errada para as pessoas que não conhecem a fundo as etapas de uma bioconstrução. Elas acabam considerando a escolha das técnicas e materiais como primeiro passo. Porém, para que este passo seja realizado com sucesso é necessário que seja feito após o estudo prévio do contexto local e da disponibilidade dos recursos, e não como uma escolha ideológica ou descontextualizada do local, das funções e demandas específicas de cada pessoa e ambiente a ser construído.
Passo 5 – Preparação do canteiro de obras
Depois do planejamento inicial, desenvolvimento do projeto, escolha das técnicas e materiais deve-se preparar o canteiro de obras para receber os materiais necessários, trabalhadores e as etapas iniciais da obra em si.
O canteiro de obras deve ser compatível com o tamanho da obra a ser realizada, quantidade de trabalhadores e também com os tipos de materiais a serem previamente armazenados no local da obra.
Um canteiro de obras bem organizado é de suma importância para uma boa logística e gestão de uma bioconstrução.
Passo 6 – Preparação do terreno com a terraplanagem
Para iniciar a obra de uma bioconstrução deve-se preparar o terreno de acordo com o projeto. Dependendo do que foi projetado e das condições naturais do terreno é necessário retirar a cobertura vegetal e fazer a terraplanagem (aplainar o terreno). A terraplanagem pode ser realizada manualmente ou com máquinas como o trator usando pá carregadeira.
Para terraplanar um terreno é feita a retirada de terra nos locais onde o terreno natural está com nível mais alto do que o definido no projeto, e fazer aterro onde o terreno natural está com o nível mais baixo que o pretendido.
Também são estratégias de terraplenagem fazer drenagem para escoamento e retirada do excesso de água existente ou das águas que geram enxurradas na época das chuvas.
Fazer rampas de terra chamadas de taludes e fazer muros de contenção de terra, os arrimos, também podem fazer parte da preparação do terreno, especialmente para unir diferentes níveis do terreno durante a terraplanagem.
Passo 7 – Marcação do gabarito
Na sequência da terraplenagem é necessário fazer a marcação do gabarito, que consiste em gerar referências no canteiro de obras para marcar os pontos onde terão as fundações da edificação e consequentemente as paredes que vão em cima da estrutura das fundações da edificação.
O gabarito normalmente é feito com uma estrutura de tábuas de madeira onde são marcados pontos de referência. Nesses pontos são amarradas linhas de nylon, e onde as linhas se cruzam mostram os locais exatos que devem ser escavados no terreno para executar a fundação da edificação. Depois de cavadas e executadas as partes da fundação, o gabarito poderá ser desfeito e retirado do canteiro de obras.
Passo 8 – Execução da fundação
A fundação é a parte da obra que tem como função suportar o peso da edificação, bem como descarregar e distribuir as cargas e esforços desse peso no solo.
A fundação é uma das partes mais importantes de uma obra, incluindo as de bioconstrução. Ela deve ser executada considerando dois fatores, o peso da obra (paredes, cobertura e tudo que vai sobre o terreno) e também a resistência do subsolo para suportar os esforços de esmagamento, compressão, torção, flexão e outros.
O peso da edificação é conhecido de acordo com a carga específica dos materiais que compõem as paredes, cobertura e as outras partes da obra. É importante ressaltar que paredes de terra chegam a ser 3 vezes mais pesadas que paredes de tijolo cerâmico furado. Portanto a fundação deve ser compatível com esse peso a mais.
A resistência do subsolo é determinada através de uma prospecção que define a dureza, ou seja, o quanto de peso o terreno resiste sobre ele. Essa prospecção pode ser feita com uma pesquisa empírica analisando a resistência de solo através de escavações no local ou da pesquisa do desempenho das fundações de obras localizadas nas proximidades da obra a ser construída.
Porém, o mais indicado para determinar a resistência do subsolo é contratar uma empresa especializada para fazer uma prospecção profissional chamada de sondagem do terreno, que mostra a resistência do solo de acordo com a profundidade.
Analisando esses dois fatores, peso das partes da edificação e da resistência do subsolo, pode-se então determinar a profundidade, largura e com qual material a fundação deve ser feita. Isto normalmente é feito por um engenheiro calculista ou um mestre de obras com bastante experiência.
Cuidado para não cair na armadilha de economizar nesta etapa ou projetar a fundação da sua bioconstrução sem conhecimento e experiência necessárias para isso. A fundação é essencial para que a edificação seja estável, fique em pé e não ocorram trincas e patologias constantes.
Passo 9 – Execução da estrutura
Depois da fundação finalizada, começa o trabalho de executar as estruturas que irão suportar o peso da cobertura e dos possíveis andares superiores. E estas que transmitem as cargas para a fundação.
A estrutura pode ser autônoma ou composta por paredes estruturais (autoportantes). Para estas últimas, vamos explicar no próximo passo.
Por definição, uma estrutura autônoma consiste na execução de elementos estruturais que funcionam independentes das paredes, ou seja, cumprem seu papel estrutural sem precisar das paredes de outras partes da obra para ficarem em ”pé” e suportarem o peso da cobertura e de toda edificação.
As estruturas autônomas são compostas basicamente por pilares e vigas que recebem a carga da edificação e a distribuem na fundação para assim serem transmitidas para o subsolo (terreno natural).
É importante um bom projeto estrutural para escolher o tipo de material adequado, posicionar e dimensionar de maneira correta os pilares (elementos estruturais verticais) e as vigas (elementos estruturais horizontais) que vencem os vãos entre as paredes.
Materiais naturais como madeira e bambu são bem vindos para compor pilares e vigas, mas não deve ser descartada a possibilidade do uso de materiais industrializados em alguns projetos e contextos específicos.
Normalmente os pilares são posicionados nos encontros das paredes e nas quinas das construções e não tem dimensões menores que 20cm de lado ou diâmetro. Porém essas posições e medidas podem variar de acordo com o peso que os pilares irão suportar.
Já as vigas são posicionadas longitudinalmente sobre as paredes e também entre dois pilares ou paredes laterais, para que os elementos superiores, lajes, assoalhos, piso superior e até mesmo o telhado, possam ser apoiados.
As vigas têm o papel de descarregar os esforços das partes superiores da edificação para os pilares ou até mesmo para paredes quando estas são autoportantes.
As vigas devem ser dimensionadas de acordo com o material que será executado, pois cada material tem resistência distinta. Além disso, devem ser calculadas em relação ao peso dos elementos superiores que precisarão suportar, e também de acordo com o vão que devem vencer (distância entre dois apoios laterais).
Passo 10 – Execução das paredes
As paredes de uma edificação, assim como de uma bioconstrução, são consideradas o envoltório do edifício. Elas têm o importante papel de delimitar o fechamento dos espaços internos e também de fazer a comunicação desses ambientes com o meio externo e o entorno da bioconstrução.
As paredes são uns dos pontos mais importantes a serem considerados na estratégia de um projeto de bioconstrução para garantir índices satisfatórios de sustentabilidade e salubridade dos ambientes construídos.
As paredes são as partes que têm a maior área de contato com o clima e com o ambiente externo, dessa maneira a escolha do material utilizado, o tamanho e posição das aberturas (janelas e portas) é o que determina a qualidade do conforto térmico, acústico e a eficiência energética da edificação.
Toda parede, incluindo as paredes de terra, que são as mais comuns nas bioconstruções, devem ser bem executadas para serem estáveis e funcionais. Portanto, a geometria da parede no projeto e a correta execução são fatores cruciais.
Um dos pontos mais importantes para isso é construir paredes aprumadas, ou seja, com a utilização da referência do prumo. Isso significa que as paredes devem ser executadas exatamente na vertical e não estejam inclinadas em relação ao seu eixo alinhado, pois isso interfere na distribuição do peso próprio da parede, e em paredes estruturais nas cargas dos elementos que estão sobre a parede.
Passo 11 – Instalações Elétricas e hidrossanitárias
As instalações elétricas e hidrossanitárias (hidráulicas e sanitárias) são partes muito importantes nas bioconstruções, elas alimentam a edificação de energia elétrica e água além de fazer o descarte dos efluentes e esgotos líquidos gerados no uso dos ambientes.
Para ser funcional e ter níveis satisfatórios de sustentabilidade, uma bioconstrução também necessita de uma boa estratégia para o planejamento do uso da água, descarte dos esgotos e para o consumo da energia desde o momento da obra até o uso dos ambientes construídos.
Já citamos os altos impactos ambientais das construções no meio ambiente relacionados diretamente ao consumo de água, energia, geração de doenças e contaminação ambiental principalmente devido à falta ou inadequação de sistemas de saneamento.
Bioconstruções bem planejadas chegam a economizar 50% do consumo de água e cerca de 30% do consumo de energia comparadas a construções convencionais. Além disso, geram menos impactos no meio ambiente e na saúde das pessoas com sistemas de saneamentos adequados e que preveem o reuso dos efluentes (esgotos líquidos) tratados.
Passo 12 – Cobertura
A cobertura de uma bioconstrução deve seguir os princípios básicos de qualquer cobertura e cumprir a função de proteger a edificação das condições climáticas externas, principalmente das chuvas, ventos, do calor e do frio.
Para a estrutura da cobertura é indicado a escolha de materiais naturais, locais ou regionais e que tenham baixo impacto no seu ciclo de vida. A madeira e o bambu são os materiais mais indicados para compor a estrutura do telhado de uma bioconstrução
Na escolha de materiais para a estrutura de um telhado considere o bambu um dos materiais mais indicados e com mais vantagens para a sustentabilidade de salubridade de uma bioconstrução.
Para a estrutura da cobertura deve-se considerar o dimensionamento de cada elemento para que seja compatível com o vão que deve vencer e com a carga que deve suportar dos elementos que compõem a superfície da cobertura em si.
Para cada material esse dimensionamento pode variar de acordo com sua resistência e projeto.
A superfície da cobertura pode ser realizada também com diversos materiais.
Temos a opção do uso de telhas cerâmicas, fibras naturais e materiais reciclados como as telhas feitas de aparas recicladas da produção de tubos de pasta de dentes ou de caixas tipo tetra pack.
Os telhados verdes também são uma bela e excelente opção para compor a superfície das coberturas de uma bioconstrução. Acima da estrutura montam-se de maneira adequada as camadas para formar um telhado ajardinado suspenso e produtivo.
Passo 13 – Revestimentos e Acabamentos
Os revestimentos, apesar de serem pouco volumosos na maioria das vezes, são os materiais que envolvem toda a edificação e tem contato direto com os moradores e usuários nas suas atividades diárias. São eles que garantem funcionalidade, conferem uma estética satisfatória personalizada e altos níveis de sustentabilidade e saúde.
Existem várias alternativas para revestimentos e acabamentos sustentáveis e saudáveis compatíveis com uma bioconstrução. Você pode usar argamassas e rebocos feitos com terra e fibras, usar o bambu para fazer mobiliários e cobrir as paredes, usar tintas naturais e atóxicas ou a base de água, dispor de materiais naturais para itens de decoração e até mesmo acabamentos finos das paredes feitos de cal e areia.
Não é recomendado pensar de forma sustentável em toda edificação, executar paredes com materiais naturais e renováveis e na hora do revestimento negligenciar uma execução de qualidade dos revestimentos escolhendo acabamentos incompatíveis com os preceitos da sustentabilidade e com a saúde das pessoas que vão ocupar e morar nos ambientes construídos.
Vantagens do bambu para o uso em estruturas bioconstruídas
O bambu é considerado um dos materiais mais vantajosos para estruturas. Veja abaixo algumas das principais aplicações do bambu para uso de estruturas em uma bioconstrução.
- Crescimento rápido – Em comparação com a madeira, as plantas de bambu se desenvolvem muito mais rápido, podendo crescer até 1,5m por ano e já estar maduro para ser usado na construção com 4 anos.
- Um único bambuzal oferece muitas varas – Outra grande vantagem é que o bambuzal oferece diversas varas enquanto a árvore é uma espécie com um único tronco. Assim, o manejo correto do bambuzal permite vida longa de anos e anos com a geração de muitas varas saudáveis e maduras para o uso.
- É um material leve – O peso próprio do bambu é muito inferior ao das outras opções de estrutura como as madeiras, o ferro e o concreto armado. Isso impacta diretamente em uma economia na fundação da edificação que precisa suportar menos carga. Além do seu baixo peso, também oferece vantagem na logística do canteiro de obra, na preparação e no transporte das varas de bambu.
- É um material muito resistente – O bambu tem uma resistência bem superior a madeira quanto a esforços de flexão, torção e tração. Em alguns casos pode-se comparar o bambu com resistência superior à do aço.
- Tem alta durabilidade – Quando bem manejado, colhido, tratado e utilizado protegido do sol e da chuva pode durar mais de 20 anos sem manutenção constante. Além disso seu tratamento pode ser realizado de maneira bem simples com submersão em água ou tratamento térmico com fogo.
- É um material ecológico – O bambuzal tem altas taxas de sequestro de gases do efeito estufa da atmosfera.
- Ajuda na preservação de nascentes e na prevenção de erosão dos terrenos onde estão plantados. Cria um microclima e atrai umidade para essas as áreas.
- Possuem várias espécies – O bambu tem várias espécies, desde o bambu gigante com varas que podem chegar a até 30 m de comprimento e diâmetro de 25 cm, até o bambu phyllostachys (cana da índia) que tem grande resistência e pode chegar a medir até 10 m de altura com diâmetro médio de 6 cm. Isso possibilita uma variedade de usos imensos para essa planta.
É um planta super versátil – O bambu não é uma madeira e sim uma gramínea. Seu colmo pode ser usado para várias partes de uma obra, tanto estruturais como pilares, vigas, cintas de amarração, vergas e até mesmo para armar estruturas de concreto com o que chamamos de bambucreto.
Estudos recentes mostram que o bambucreto pode ter desempenho melhor que o concreto armado feito com ferragens de metal.
O bambu também pode compor a estrutura do telhado, esquadrias de janelas e portas, mobiliários, acabamentos, pisos, forros, assoalhos e até mesmo refinados objetos de decoração.
E como se não bastasse tanta versatilidade, o bambu ainda pode servir de planta ornamental e alimento com seus brotos.
O bambu é um material normatizado no Brasil – Desde 2020 a ABNT publicou a norma para estruturas de Bambu na construção.
A norma dispõe sobre dimensionamento de estruturas de bambu (NBR – 16828-1) e sobre métodos de ensaio para propriedades físico-mecânicas dos bambus.
É um material econômico – Com tantas vantagens e um custo relativamente baixo se comparado a outros materiais, o bambu traz um grande potencial de tornar uma bioconstrução mais barata. Seu custo benefício supera diversos materiais construtivos.
O baixo custo para plantio, extração, manejo, transporte e tratamento, e ainda seus múltiplos usos associados ao peso muito baixo trazem muitas economias para uma bioconstrução.
Posso usar materiais naturais para estrutura de uma bioconstrução?
Na bioconstrução as estruturas autônomas podem ser realizadas a partir de elementos variados, principalmente materiais naturais como madeira ou bambu.
Porém não se deve levar em conta somente o uso de materiais naturais para a estrutura de uma bioconstrução.
Muitas vezes de acordo com o contexto e especificidades do projeto pode e deve ser considerado o uso de materiais industrializados como concreto armado, metal ou até mesmo a combinação desses elementos com a madeira e o bambu, por exemplo.
Cada material tem sua resistência e características específicas e deve ser escolhido para otimizar a estrutura e a longevidade da edificação como um todo.
O uso de materiais naturais em alguns casos pode tornar a obra mais impactante ambientalmente devido a manutenções constantes e o uso excessivo de recursos naturais escassos em algumas regiões.
Existem contextos em que um elemento industrializado cumpre o papel de maneira mais eficiente e econômica que um material natural.
Em obras contemporâneas de bioconstrução é comum o uso de elementos estruturais naturais conjugados com elementos industrializados para se tornarem obras funcionais e duradouras atendendo às demandas dos dias de hoje.
Fazer paredes de terra é fazer bioconstrução?
Por todas essas características e funções citadas anteriormente, muitas pessoas acabam se confundindo e concluindo que a bioconstrução se resume apenas em fazer paredes com materiais naturais como a terra.
Porém, as paredes, mesmo com toda importância que tem, são uma das partes que compõem e dão forma à estratégia para que uma obra ou edificação seja considerada uma bioconstrução.
A cobertura, a localização, a estrutura, um bom projeto, o estudo bioclimático e todas as etapas descritas aqui também são, assim como as paredes, essenciais para que uma bioconstrução seja eficaz, funcional e com menor impacto negativo possível no meio ambiente e na saúde das pessoas.
Quais tipos mais comuns de paredes para uma bioconstrução?
As paredes de terra, bambu e madeira, por serem compostas por elementos naturais, feitas com materiais locais e renováveis, são as mais comuns em edificações bioconstruídas.
Dentre as técnicas mais comuns para uma bioconstrução temos as paredes feitas de terra com tijolos de adobe (blocos de terra secos ao sol), taipa de pilão, taipa de mão (pau-a-pique), terra ensacada (hiperadobe e superadobe), o cob (terra empilhada) e o BTC (bloco de terra comprimida, também conhecido com tijolo ecológico ou tijolo de solo cimento). Também existem as paredes feitas de varas ou esterídias de bambu, paredes de fibras e ainda paredes de toras e tábuas de madeira.
Claro que essa escolha depende da disponibilidade e contexto de cada obra. Mas de fato, quanto mais naturais, sustentáveis e saudáveis forem as técnicas para execução das paredes mais bem vindas na bioconstrução.
Casas com paredes de terra são mais frescas durante o dia e menos frias de noite?
Você já deve ter ouvido falar que casas com paredes de terra são mais frescas durante o dia e mais menos frias durante a noite. E isto é verdade porque uma parede de terra respira.
Como já dito anteriormente, as paredes de terra possuem uma propriedade chamada higroscopia, ou seja, nelas existem poros que permitem a troca de ar, calor, umidade e gases do interior para o exterior da edificação, e isso além de ajudar a regular a temperatura dos ambientes internos também mantém a umidade em níveis saudáveis impedindo mofos e formação de bolores.
Sendo assim, uma parede de terra aumenta a eficiência energética dos ambientes economizando com ar condicionado e calefação, além de favorecer a saúde dos usuários ao impedir o aparecimento de mofos ou níveis de umidade muito baixos.
Paredes de terra são normatizadas?
Desde de 2020 que as paredes de adobe foram normatizadas aqui no Brasil pela ABNT, pela seguinte norma: NBR 16814: 2020 – Adobe – Requisitos e métodos de ensaio.
A Biohabitate teve a grande honra e mérito de ter participado integralmente da comissão técnica responsável pelo texto desta norma através dos seus sócios e arquitetos Flávio Duarte e Bruno Azevedo.
As paredes de taipa de pilão, também com a participação de Flávio Duarte e Bruno Azevedo da Biohabitate em reuniões da comissão técnica, já foram normatizadas aqui no Brasil pela ABNT em 2022 através da norma: NBR 17014: 2022 – Taipa de pilão – Requisitos, procedimentos e controle.
O uso da taipa de pilão e do adobe, assim como a comprovação do seu desempenho tem um histórico milenar no mundo inteiro, e secular aqui no Brasil. Portanto podemos considerar que essas normatizações vieram de certa forma tardiamente. Mesmo com esse considerável atraso, a normatização foi um grande avanço para a inclusão e ampliação das bioconstruções no mercado da construção civil contemporânea e não somente como patrimônio histórico.
Com estas normas, as bioconstruções dão um passo largo para se tornarem cada vez mais populares e competitivas em relação às técnicas de construção contemporâneas vigentes. Dessa maneira ganham mais espaço no mercado, em projetos governamentais e nos planos de clientes e investidores que agora têm maiores garantias e podem ser resguardados pela qualidade desse tipo de obra contando com a segurança dos parâmetros de desempenho determinados nas normas.
Paredes de fechamento ou vedação
As paredes de vedação têm esse nome pois elas não suportam o peso próprio da parede nem o peso da cobertura e dos elementos dos pavimentos superiores, cumprindo apenas a função de fazer o fechamento dos espaços vazios entre os elementos da estrutura compostos pelos pilares e vigas.
Para as paredes de fechamento, o mais comum é o uso do pau-a-pique, o adobe, tábuas de madeira ou o uso de varas ou esterídias de bambu.
Paredes estruturais
Quando escolhemos paredes estruturais com materiais menos impactantes como as paredes autoportantes de terra, podemos tornar a edificação ainda mais ecológica e econômica. Pois substituem uma das etapas mais caras e impactantes que são os elementos estruturais de uma obra como por exemplo, os pilares e as vigas.
As técnicas de construção com terra como taipa de pilão, terra ensacada (hiperadobe e superadobe) e o cob são concebidas para serem paredes estruturais, ou seja, elas servem de estrutura para suportar as cargas do telhado e o peso dos pavimentos superiores, descartando assim o uso de uma estrutura com pilares e vigas independentes das paredes.
Qual altura, espessura e comprimento máximo de uma parede de terra?
De acordo com a norma de adobe, a espessura mínima para paredes de vedação de adobe não deve ser inferior a 20 cm e sua altura livre não deve ser maior que 15 vezes sua largura.
Já as paredes estruturais de adobe do primeiro pavimento devem ter um mínimo de 30cm de largura e não devem exceder o índice de esbeltez de 15, proporção entre a altura livre da parede e sua largura. Ou seja, se a parede medir 30cm de largura ela não poderá ultrapassar 4,5m de altura (30 cm x 15 = 4,5 m).
Além disso, a parede de adobe não pode ultrapassar o comprimento de 25 vezes sua largura sem ter um enrijecedor, como um contraforte ou uma parede perpendicular.
Para a taipa de pilão não estabilizada com cimento ou cal a espessura mínima deve ser de 30cm, e sua altura livre não deve exceder 10 vezes sua largura. Já para a taipa de pilão estabilizada a espessura mínima deve ser de 12 cm e o índice de esbeltez não deve exceder 23. Ou seja, sua altura não deve ser maior que 23 vezes sua largura.
Para paredes de terra ensacada (hiperadobe e superadobe), apesar de não ter normatização, podemos considerar os mesmos parâmetros de largura e esbeltez da taipa de pilão. Mínimo de 30cm de largura e o índice de esbeltez não deve exceder 10 para terra ensacada nao estabilizada com cimento ou cal, e de 23 quando estabilizada com cimento ou cal.
Já para paredes de cob (terra empilhada), também podemos considerar o índice de esbeltez máximo de 12 e a espessura mínima de 40cm para a base da parede.
As paredes estruturais de BTC (bloco de terra comprimida, tijolo ecológico), são armadas com ferragens em média entre 6 e 6 fiadas de altura e os orifícios dos blocos são cheios de concreto armado de acordo com o projeto. Estes blocos devem ter espessura mínima de 15cm para compor uma parede estrutural.
Como saber se a parede que eu executei é estrutural ou não?
A parede de adobe também pode ser projetada para ser estrutural, isso vai depender da resistência dos adobes feitos previamente.
Para saber se seu adobe é estrutural você pode fazer testes empíricos no canteiro de obras para atestar a resistência do seu lote de fabricação.
Vamos deixar aqui alguns testes empíricos que você pode fazer no canteiro de obras para testar se sua parede tem indicativos de ser uma parede estrutural. Com esses testes você poderá adequar as proporções e traços da massa que usou para executar as paredes e por comparação saber qual é a massa mais adequada para fazer a parede.
Mas cuidado, que paredes estruturais mal feitas podem causar acidentes e colapsar sua obra inteira. Então o mais indicado é considerar os ensaios de laboratórios indicados nas normas de adobe e taipa de pilão para atestar a resistência real da sua parede e garantir que ela possa ser executada como sendo estrutural sem problemas.
Um dos testes empíricos que pode dar um indicativo de adobes estruturais é apoiar um adobe entre outros dois adobes, deixando a parte do meio sem apoio e subir sobre o adobe fazendo força sobre ele. Se ele resistir o seu peso e não quebrar, pode ser que seu adobe seja estrutural.
Outro teste empírico para atestar a resistência estrutural do adobe é lançar um bloco de uma altura média de 1,20m do chão e ver como ele se comporta ao bater no chão em uma superfície dura. Se ele esfarelar ou quebrar em pequenos pedaços, pode ser um indício que o adobe não tem muita resistência, porém se ele não quebrar, rolar ou se partir em grandes pedaços depois do impacto com o chão, pode ser indício de um adobe estrutural.
Para as paredes de terra ensacada e de taipa de pilão também podemos fazer testes empíricos no canteiro de obra para uma estimativa da resistência. Fazer pequenos comprimentos de paredes de terra ensacada e taipa de pilão em escala real no canteiro de obras antes de fazer as paredes definitivas, e depois quebrar pedaços dessas paredes de com a talhadeira para soltar esses pedaços de uma altura de 1,20cm do chão também podem dar indícios se as paredes são estruturais ou não.
Este teste é igual ao descrito para o adobe. Se o pedaço da parede, ao ser lançado no chão, não quebrar ou quebrar em pedaços grandes, pode ser um indicativo que sua parede é estrutural, porém se o pedaço, ao bater no chão esfarelar, pode indicar uma parede com pouca resistência para ser autoportante. Se isso acontecer, refaça o traço da massa usada na parede para tentar conferir mais resistência.
Mas lembre-se, os testes empíricos nunca devem ser substituídos pelos ensaios de laboratórios contemplados nas normas, pois eles são testes com margem de erro e podem mostrar um resultado errado sobre a capacidade estrutural da sua parede.
Como fazer a ligação entre as paredes de terra e os pilares e vigas da estrutura?
Um ponto muito importante na execução das paredes de terra é dar atenção à relação das paredes com a estrutura autônoma que se ligam a elas. Pois quando usamos pilares e vigas de madeira, ou outro elemento diferente da terra usada nas paredes, o coeficiente de retração e dilatação do material da estrutura e da parede de terra são diferentes, e com tempo tende a dar uma trinca entre a estrutura e a parede, descolando a parede dos pilares e das vigas.
Para unir, por exemplo, os pilares e vigas de madeira às paredes de adobe, existem duas alternativas que são bem eficazes.
Uma é fazer o apregoamento nos pilares e vigas de madeira antes do assentamento dos adobes que ficarão em contato com a estrutura. Assim, a massa de assentamento que liga o pilar e a viga à parede de adobe, terá uma maior superfície de contato para se unirem efetivamente.
Esse apregoamento é realizado fixando vários pregos no pilar e na viga de madeira, com espaçamento médio de 10cm um do outro e deixando os pregos com 1cm a 2cm sem bater. Assim, cria-se uma superfície com vários pontos de ancoramento onde a argamassa de terra usada entre os adobes e a estrutura possa se integrar, impedindo que futuras trincas separem a parede do pilar e das vigas.
Outra maneira de fazer esta união é prever, durante o assentamento dos adobes, tarugos de madeira entre as fiadas dos tijolos para que os pilares e vigas sejam parafusados nesses tarugos depois da parede executada.
Já para o pau-a-pique podemos prever, antes do barreamento, a união de uma malha de madeira ou bambu na fundação, nas vigas baldrame, na viga superior e nos pilares de madeira ou de bambu com encaixes, pregos ou parafusos para que a malha fique bem fixada na estrutura.
Também podem ser usados tarugos presos previamente à estrutura e posteriormente amarrados ou parafusados à malha de madeira ou bambu do pau-a-pique. O importante é que a malha do pau-a-pique esteja bem rígida e fixada na estrutura para ficar estável e não provocar trincas e o descolamento da estrutura.
No pau-a-pique, também eram tradicionalmente usados cipós e cordas para fazer a amarração da malha aos pilares, porém, devemos dar atenção para que a umidade da massa de barro não encharque e afrouxe essas amarrações que podem perder a tensão necessária para ficarem bem amarradas.
Como fazer e unir as esquadrias e vergas das janelas e portas nas paredes de terra?
As esquadrias, vergas e marcos das portas e janelas podem ser feitas com diversos materiais como metal, madeira, bambu ou até mesmo concreto armado. Vai depender do tamanho da abertura, da estética desejada e da disponibilidade de material. Se serão executadas no local da obra ou compradas pré- fabricadas.
As esquadrias, marcos e vergas das portas e janelas também podem ser fixadas, tanto nas paredes de terra estrutural, quanto nas paredes de fechamento, contando com as duas estratégias descritas acima, usando os tarugos de madeira ou com o apregoamento feito previamente nos elementos das janelas e portas quando estas são de madeira.
Bioclimática e escolha da localização e tamanho das janelas e portas em uma parede
As aberturas de janelas e portas devem ser localizadas e dimensionadas para otimizar a iluminação e ventilação natural dos ambientes internos de uma bioconstrução. Aberturas mais generosas voltadas para a direção sul permitem uma maior iluminação e ventilação sem incidência direta do sol que poderia aquecer demais um ambiente construído e localizado em uma região quente.
Já aberturas menores ou com algum tipo de proteção para sombreamento são bem vindas voltadas para a direção norte e oeste, pois nestas direções temos incidência de muito sol, que poderia esquentar demais os ambientes no verão.
Já na direção leste temos o sol nascente com uma insolação mais branda e bem vinda para o uso de janelas maiores e mais generosas.
Em um cômodo, sempre que possível, é interessante prever uma ventilação cruzada para a renovação do ar potencializada e mais eficaz. Para isso, localizar as janelas em paredes paralelas ou opostas é uma estratégia super bem vinda que permite que o ar externo atravesse o ambiente renovando o ar interno de maneira satisfatória.
Mesmo com a estratégia da localização das aberturas, é importante dar atenção à ventilação e iluminação mínima necessária através do tamanho das janelas e das portas, e assim ter níveis adequados de conforto, salubridade, iluminação e ventilação natural dos ambientes internos.
Para ambientes de permanência prolongada (quartos, cozinha, sala, escritórios, etc) consideramos a soma das áreas das janelas de no mínimo um sexto da área do piso do cômodo onde elas serão instaladas. Já para ambientes de permanência transitória (banheiros, depósitos, porão etc) a área das janelas pode ser reduzida para um oitavo da área do piso do cômodo onde estarão localizadas.
Energia para produção dos materiais de construção
A importância da geração de energia elétrica limpa e renovável para produção dos materiais que serão usados na obra, é considerado um dos fatores cruciais para níveis de sustentabilidade esperados para quem escolhe a bioconstrução.
Para produção e transporte de materiais construtivos ainda são consumidos os combustíveis fósseis (petróleo e derivados) e o carvão mineral como a maior parte da matriz energética do mundo, chegando a mais 70% da base energética de todo o planeta. Fato que tem impactos imensos no meio ambiente com a extração e também, produção de gases do efeito estufa liberados na atmosfera.
Já no Brasil, o consumo dos combustíveis fósseis chegam a 35%, seguidos dos combustíveis derivados da cana de açúcar que ocupam 18% da matriz energética do país. São dados alarmantes se pensarmos que 35% desse total é consumido pelo setor das construções.
Uso e geração de energia elétrica para a bioconstrução
Contudo, não adianta pensar somente em materiais e técnicas com baixa energia incorporada no seu ciclo de vida (energia gasta para produzir um material da extração ao uso na obra). É essencial escolher uma fonte de energia com menor impacto ambiental para alimentar o edifício também na sua vida útil após a obra realizada, pois o tempo de uso da edificação é proporcionalmente maior e mais impactante que o processo de construção em si.
Existem na atualidade várias alternativas para geração de energia elétrica limpa proporcionando à bioconstrução ser ainda menos impactante para o meio ambiente.
Veja abaixo as principais fontes de energia que você pode escolher para sua bioconstrução:
- Energia Fotovoltaica – É a geração de energia elétrica através de painéis que captam e convertem a luz do sol em energia elétrica para o uso direto na edificação. É uma das tecnologias que mais ganha espaço e tem se mostrado viável para as bioconstruções urbanas e rurais. Uma opinião é que em breve o uso de painéis fotovoltaicos poderá se tornar um item obrigatório para quem escolher ter uma bioconstrução.
- Energia Eólica – É a produção de energia elétrica através de um gerador composto por hélices que giram com as forças do vento e esse movimento é convertido em energia elétrica para uso direto na edificação. Cada dia mais a tecnologia de energia eólica está sendo aprimorada apesar de ainda não ter um custo benefício melhor que a geração fotovoltaica.
- Energia Hidráulica – É a geração de energia através de movimentos de uma turbina acionada pela força das águas. Apesar de ser utilizada em larga escala e a maior fonte de geração de energia elétrica no Brasil, para produção direta nas residências ainda é pouco utilizada pois é necessário ter água corrente para montar uma mini-usina hidrelétrica. Então, para instalação direta nas bioconstruções, a energia hidrelétrica perde espaço para a produção eólica e fotovoltaica.
Além disso, quando pensamos nas grandes usinas hidrelétricas, apesar de serem consideradas de fontes renováveis, o impacto causado pelo represamento e inundação das barragens é muito significativo, pois além de submergir grandes áreas de mata e até cidades, ainda muda cursos de rios e interfere no ecossistema e nos mananciais das bacias hidrográficas do país. - Aquecimento solar de água – Apesar dessa estratégia não ser para produção direta de energia elétrica, o uso de painéis solares que aquecem a água com o calor do sol diminui em até 80% a necessidade de energia elétrica para aquecer a água de uma bioconstrução.
Escolher este tipo de tecnologia para aquecer a água de chuveiros e piscinas é uma excelente alternativa que pode ser usada em conjunto com a geração limpa de energia elétrica aprimorando ainda mais a eficiência energética de uma bioconstrução.
A água e o saneamento na bioconstrução
Como já dito aqui, é de suma importância para que uma bioconstrução cumpra sua premissa de ser sustentável e saudável ter estratégias para dispor de água de qualidade e sistemas de saneamento adequado e pouco impactantes.
Consumo consciente e economia de água na bioconstrução
Veja aqui como você pode economizar água na sua bioconstrução:
- Escolher técnicas e materiais que necessitam de menor consumo e geram menos contaminação da água durante seu uso e produção;
- Captar, armazenar e usar as águas de chuva na obra e na vida útil da bioconstrução;
- Fazer o tratamento e reuso dos esgotos da edificação, principalmente para usos não diretos como em vasos sanitários, irrigação e para lavar áreas externas;
- Usar vasos sanitários de duplo fluxo nos banheiros, para despejos sólidos e líquidos;
- Usar aeradores que misturam ar na água e são instalados nas saídas de água de torneiras, de tanques e lavatórios de banheiros. São itens super baratos que chegam a economizar mais de 50% no volume de água gasto em casa;
- Escolha de chuveiros produzidos com aeradores acoplados e menor vazão na saída da água;
Como fazer as instalações elétricas e hidrossanitárias em paredes de terra
Existe uma preocupação recorrente de como executar as instalações elétricas e hidrossanitárias quando as paredes de uma bioconstrução são feitas de terra.
Mas não existe mistério para isso. Nas paredes de terra que receberão rebocos ou revestimentos, como paredes de adobe, pau-a-pique ou hiperadobe, você pode executar a parede normalmente.
Após a parede pronta e antes de fazer o reboco você pode cavar nas paredes os espaços e caminhos para embutir os tubos e eletrodutos por onde as instalações irão passar.
Um ponto muito importante no caso de instalações hidrossanitárias é fazer a impermeabilização com impermeabilizante acrílico ou asfáltico nos buracos antes embutir os tubos de água e esgoto nesses caminhos das instalações.
Como estamos falando de paredes de terra, essa impermeabilização protege o interior das paredes de qualquer vazamento futuro.
Outra opção que pode ser usada para executar instalações elétricas e hidrossanitárias, tanto para paredes de terra que vão receber reboco, como também para paredes que ficarão à vista, sem revestimento e sem reboco ou só com pintura, como as paredes de taipa de pilão e de adobes à vista, é fazer as instalações externamente sem precisar embutir no interior das paredes.
Dessa maneira, as instalações ficam à vista e podem compor inclusive com a estética dos ambientes. Essa opção tem a vantagem de facilitar uma possível manutenção futura e também ser executada sem muita quebradeira na obra depois da parede pronta.
Nas paredes de terra executadas sem qualidade adequada, pode acontecer dos parafusos de fixação das instalações à vista não ficarem bem presos na superfície das paredes. Para contornar este problema pode-se prever durante a execução das paredes tarugos de madeira, ou chapas metálicas que ficarão embutidas em pontos estratégicos dentro das paredes na hora da execução da parede propriamente dita.
Caso a parede já tenha sido executada sem esses pontos de ancoramento previstos, pode-se cavar com cuidado pequenos orifícios na superfície das paredes de terra, posicionar as buchas dos parafusos e encher de argamassa resistente para que os parafusos fiquem bem fixados na superfície. Para essa alternativa pode-se usar uma argamassa de terra com um traço de cimento (10 de terra arenosa x 1 cimento) para garantir a fixação na parede.
História e benefícios do telhado verde para cobertura de uma bioconstrução
Os primeiros telhados verdes foram feitos de maneira intuitiva desde os primórdios da civilização quando as plantas nasciam sobre as coberturas e formando assim as primeiras coberturas ajardinadas de forma espontânea.
Já para os telhados verdes históricos não espontâneos, temos um belo exemplar nos jardins suspensos da Babilônia construído pelo rei neobabilônico Nabucodonosor II, que governou entre 605 e 562 a.C. na região próximo a atual cidade de Hila no Iraque.
Nos tempos mais modernos temos o registro desde do século IX do uso de um tipo de vegetação chamada turfa ou relva utilizada para cobrir casas na Islândia. Esse costume foi introduzido pelos primeiros colonos nórdicos Vikings. Para conferir um conforto térmico e isolar as casas do frio rigoroso, as paredes de telhados eram construídas com torrões de terra do local,e nas estações do ano mais amenas a relva ou turfa nascia nas paredes de coberturas.
Atualmente existem muitas casas bioconstruídas que incluem e se beneficiam de outras vantagens dos telhados verdes também como elementos funcionais, estéticos e ecológicos.
O telhado verde tem vários benefícios diretos imediatos para a edificação e para o entorno. Aqui abaixo seguem os benefícios considerados mais importantes:
- Traz conforto acústico e térmico superior de até 30% em relação às coberturas convencionais, diminuindo a variação de temperatura no interior das edificações e reduzindo o uso de aquecimento ou resfriamento artificial do ar;
- Possibilita a captação e filtragem de água da chuva, podendo ser armazenada em cisternas para ser reutilizada em vasos sanitários, tanques, máquinas de lavar e irrigação;
- Cria um microclima e um ecossistema natural na edificação e no entorno imediato. Traz mais umidade para as ilhas de calor das grandes metrópoles chegando a diminuir em até 3°C a temperatura do entorno;
- Filtra poluentes como fuligem, metais pesados e gases tóxicos presentes no ar, através da vegetação plantada;
- Aumento das áreas permeáveis e do tempo de infiltração de água da chuva, minimizando as enchentes e inundações nas grandes cidades;
- Retira CO² da atmosfera absorvido pela vegetação o que colabora com a redução do efeito estufa;
- Alta durabilidade e baixa manutenção principalmente com a escolha de plantas nativas da região;
- Conforto visual e psicológico com estética personalizada;
- Ótimo custo benefício, considerando as vantagens e funções agregadas além de só proteger a edificação das intempéries;
- Pode ser usado para produção de alimento, o que possibilita segurança alimentar para seus moradores e vizinhos;
- Cria uma área de convivência para os habitantes e devolve para o local, para as cidades e para as pessoas uma área funcional igual ou superior à área de projeção ocupada pela edificação no terreno natural;
Acabamentos mal escolhidos podem adoecer as pessoas
Este é um dos pontos cruciais para quem quer ter uma casa bioconstruída. É fundamental investir na salubridade dos materiais usados nos revestimentos.
Muito cuidado com tintas, vernizes e resinas à base de solventes pois destes desprendem gases tóxicos chamados de compostos voláteis orgânicos (COV) nos ambientes internos, favorecendo assim o aparecimento de doenças respiratórias, pulmonares e gerando mal estar nos moradores.
Dessa mesma maneira, o uso de madeiras compensadas, fórmicas, MDFs, OSB, pisos e revestimentos de vinil, papéis de parede e alguns produtos de limpeza também possuem COV presentes nas suas colas e composições. Estes componentes deixam os ambientes com baixo nível de salubridade. E ainda existem também alguns tipos de pedras graníticas que podem possuir níveis insalubres de radioatividade com desprendimento do gás radônio nos ambientes onde são usadas para piso, bancadas e paredes.
Portanto na hora de escolher os itens de decoração, revestimentos das paredes e pisos, mobiliários e demais materiais de acabamentos fique atento, não só para o uso de materiais sustentáveis, mas também para escolha e uso de materiais sem toxinas e não contaminantes.
Como revestir as paredes de terra para que elas continuem respirando?
Como já dito, as paredes de terra são higroscópicas e respiram, portanto na hora de escolher os revestimentos e materiais para executar os acabamentos, rebocos e pintura também escolha materiais que respirem e não tampam os poros das paredes de terra.
Rebocos e argamassas convencionais de cimento e areia impedem a respiração das paredes, assim como tintas convencionais que plastificam as paredes. Prefira rebocos de cal, terra e areia sem uso de cimento em grandes quantidades.
Em média, se usar no máximo 10% de cimento em um reboco de terra, ainda é possível garantir a respiração das paredes de terra, usando acima desse índice irá impedir a troca de ar pelas paredes.
Todas as tintas de terra deixam a parede respirar?
Para tintas de terra também vale a pena destacar que se você mesmo for fazer a sua, não use mais que 1% de cola branca PVA na mistura, pois esse tipo de cola apesar de ajudar na ancoragem da tinta sobre a superfície da parede, quando usada em grandes quantidades na composição da tinta ela também veda os poros das paredes de terra.
Posso usar revestimentos de cerâmicas nas paredes de terra dos banheiros e cozinha?
Sim, você pode usar revestimentos de cerâmicas nas paredes de terra, ou até mesmo impermeabilizar um dos lados da parede.
Claro que isto vai impedir parcialmente a respiração das paredes. Porém deixando um dos lados ainda com revestimentos que assegure a propriedade de respiração você garante que as paredes não vão mofar ou acumular umidade em seu interior.
Como executar revestimentos cerâmicos em paredes de terra?
Existe uma incompatibilidade química e física entre as superfícies das paredes de terra e das argamassas convencionais de cimento e areia, incluindo aquelas usadas para assentar cerâmicas.
A diferença entre a movimentação de dilatação e retração desses dois materiais, que acontece com a umidade do ar durante o uso da edificação, pode fazer com que a cerâmica se desprenda da superfície da parede de terra. Mas isto pode demorar meses ou até anos para acontecer.
Para garantir longevidade nesses casos, o ideal é assegurar a ancoragem da argamassa convencional usando algum material, preso previamente na superfície de terra da parede, antes de aplicar a argamassa. Você pode usar uma tela metálica de viveiro ou de estuque fixada com grampos de cerca na superfície dos adobes, taipa de pilão ou amarrada na trama de madeira do pau-a-pique. Isto vai garantir que a argamassa usada para assentar as cerâmicas se ancore também nesta tela que por sua vez está bem pregada na parede.
Dessa maneira, mesmo acontecendo com o tempo o descolamento da argamassa convencional da superfície da terra, ela ainda ficará presa à tela, garantido longevidade ao acabamento cerâmico. Quando se tem uma parede de hiperadobe, pode-se dispensar o uso desta tela uma vez que a malha da sacaria usada neste tipo de parede já vai fazer o papel de armar a argamassa e garantir que ela fique bem presa à superfície da parede.
Então o passo a passo é executar a parede, fixar a tela na superfície ou na trama do pau-a-pique, chapiscar com cimento e areia, ou até mesmo com cimento, terra e areia, e depois aplicar a argamassa específica para assentar o revestimento de lajotas cerâmicas.
Quais os erros comuns que uma obra pensada para bioconstrução pode enfrentar?
Agora, eu irei demonstrar erros extremamente comuns nessa área e que você deve ficar muito ligado.
1 – Escolher materiais e técnicas somente por modismo ou ideologia:
Primeiro erro é escolher materiais e técnicas sem pensar em um planejamento e estratégias que garantam sustentabilidade a longo prazo. Se você escolher os materiais só por ideologia e não pensar em compatibilizar cada material com suas demandas e com o contexto do terreno, você pode acabar com uma obra não funcional e com manutenções constantes.
2 – Não executar de maneira correta:
Muitas pessoas acham que a bioconstrução, por ser composta de materiais naturais e técnicas tradicionais, simples e pouco industrializadas, não precisam de cuidados e experiência técnica para se ter uma edificação segura e sem manutenção constante.
Fazer uma casa de bioconstrução não significa ter que fazê-la de qualquer jeito. Você precisa de assessoria para a mão-de-obra e experiência para garantir uma boa execução das partes de bioconstrução e também para as partes convencionais da obra.
Uma bioconstrução é uma obra como qualquer outra e a qualidade de execução vai garantir a funcionalidade, a durabilidade, a satisfação dos moradores e também a sustentabilidade ao longo do tempo.
3 – Construir paredes de terra usando qualquer terra:
Esse erro pode ser considerado um dos mais comuns cometidos por pessoas leigas que não se prontificam a buscar informações técnicas de qualidade.
Sabemos que a terra é sim um material versátil, porém não se pode construir com qualquer terra só porque ela se encontra mais disponível na sua região e no seu terreno.
Por exemplo, terras muito argilosas precisam ser misturadas a terras mais arenosas para ficarem mais estáveis e resistentes para compor paredes.
Já terras muito arenosas não têm a liga e nem a coesão necessárias para serem estáveis e precisam receber mistura de terra argilosas ou estabilizantes químicos como o cimento ou a cal e se tornarem aptas para compor paredes de qualidade.
Normalmente as terras adequadas para construção tem uma média de 60% de areia na sua composição e quantidades de argila entre 20% a 40% do volume total, o suficiente para conferir coesão das partículas da terra.
Lembrando que toda terra tem em sua composição areia, silte e argila, e cada um desses grãos trabalha de maneira diferente na presença da água, na mistura para fazer a massa e também na presença dos esforços e cargas que uma parede recebe dela própria e ao construir telhados e coberturas.
A argila é a menor partícula da terra e confere liga e coesão quando interage com água usada na massa, já a areia é a maior partícula presente na terra, não interage com a água e confere resistência física à massa usada na parede. Já o silte, tem tamanho intermediário e ajuda na estabilidade da massa que compõe a parede diminuindo os espaços vazios entre as partículas de areia e argila contidas na terra.
Outro ponto onde muitos erros são cometidos é no uso de terra com presença de matéria orgânica.
A matéria orgânica é ótima para terras destinadas para plantio, hortas e pomares, porém não deve conter na terra escolhida para fazer paredes.
As terras chamadas de terras vegetais podem gerar várias patologias nas paredes.
A matéria orgânica vai apodrecer, causar infestação de microrganismos, mofar e gerar espaços vazios no interior das paredes de terra.
Tudo isso causa instabilidade, falta de segurança e impede um bom ancoramento dos revestimentos. Para identificar as terras com matéria orgânica, molhe um punhado de terra e se ela tiver cheiro de composto para horta ou de “terra molhada” não deve ser usada para executar paredes.
As terras sem matéria orgânica não tem cheiro e são encontradas no subsolo abaixo das zonas das raízes de plantas e árvores, normalmente abaixo dos 50 cm de profundidade.
4 – Achar que é de graça e escolher bioconstrução somente pela economia:
Esse erro pode lhe custar muito caro, pois quem pensa que só porque vai construir com materiais naturais a obra vai ficar praticamente de graça, ou ainda se escolhe materiais para sua bioconstrução focado somente na economia, pode-se esquecer de uma das etapas fundamentais para uma obra segura e durável, que é o projeto e o planejamento adequado para o uso de cada material a médio e longo prazo.
Outro equívoco é escolher o bambu para estrutura ou a terra para paredes só pela economia, se não for feito um bom planejamento e projeto para que o uso desses materiais seja duradouro e funcional ao longo dos anos.
Imagine usar o bambu sem investir em um bom projeto e de dois em dois meses precisar trocar os pilares de bambu da sua casa. Imagine construir paredes de terra sem investir em um projeto que prevê os cuidados adequados para o uso desta terra no terreno e contexto específico e precisar refazer as paredes ou ter manutenções constantes em todo período de chuva.
Dessa maneira, a casa sairá muito mais cara e impactante ao longo do tempo, e o orçamento final vai extrapolar muito além do que se tinha esperança de investir.
Portanto, antes de pensar em economia, considere pensar em qualidade, segurança e um bom projeto para que a bioconstrução seja segura, funcional, durável e econômica não só durante a obra em si, mas também eficaz e rentável com o passar dos anos.
5 – Acreditar que pessoas e profissionais sem experiência podem te assessorar
Muitas pessoas fazem cursos de finais de semana ou constroem apenas suas próprias casas e se intitulam professores de bioconstrução sem ter a experiência prática necessária em diferentes contextos e técnicas de bioconstrução.
Além disso, muitas dessas pessoas não são capazes de executar de maneira correta partes comuns a qualquer tipo de obra, como por exemplo a fundação, nivelamento do piso, aprumar uma parede, esquadrejar um marco ou esquadrias de portas e janelas, montar a estrutura de uma telhado, etc.
Pesquise muito bem antes de buscar pessoas para construir, projetar e te assessorar. Peça referências de obras e clientes atendidos anteriormente para ter certeza que a pessoa que vai trabalhar para você tenha experiência concreta em bioconstrução.
6 – Acreditar que bioconstruir é fazer apenas paredes de terra:
Executar paredes de terra é uma das opções que são muito bem vindas para a bioconstrução, porém não se resume em fazer apenas isso.
Além de escolher paredes de terra, deve-se fazer um bom estudo bioclimático, um bom planejamento e projeto arquitetônico e escolher fontes renováveis para eficiência energética para a bioconstrução.
Para uma bioconstrução de qualidade também deve-se fazer um projeto de saneamento ecológico eficaz, escolher o melhor local para implantação da edificação no terreno, escolher o tipo de cobertura para permitir um bom conforto térmico, dimensionar e localizar de maneira adequada as janelas para uma ventilação natural adequada.
Também é indicado fazer captação da água da chuva e dispor de materiais atóxicos e saudáveis para os revestimentos e acabamentos dos ambientes bioconstruidos.
7- Achar que vai conseguir fazer sua casa com as próprias mãos ou apenas em mutirão sem ter experiência e assessoria profissional:
Por dar preferência a materiais naturais, locais e algumas técnicas de execução artesanal, a bioconstrução favorece a autonomia para que se coloque a “mão na massa” e envolva amigos para fazer mutirão na obra da casa.
Porém, para que se tenha qualidade e segurança durante a execução e também depois da bioconstrução pronta é essencial que se considere assessoria e o acompanhamento de profissionais e pessoas capacitadas.
8 – Acreditar que não existe mão de obra para bioconstrução:
Há um mito de que não existe mão de obra para execução de sua bioconstrução. Porém, como a bioconstrução é uma especialidade da construção civil, não há como ficar desamparado ao se contratar mão de obra convencional em conjunto com um especialista para dar assessoria e acompanhar exclusivamente as partes específicas de bioconstrução.
Ao procurar uma equipe de bioconstrutores para executar a obra do começo ao fim, é possível ter dificuldade de encontrar e provavelmente pagar mais caro por isso.
Podemos fazer uma comparação da mão de obra para bioconstrução com os profissionais especialistas em instalação de sistemas de energia fotovoltaica.
Se quiser que este especialista faça toda a instalação elétrica da sua casa, provavelmente ele irá cobrar muito mais caro e o contratante não irá encontrar a mão de obra disponível para isso.
É muito mais fácil encontrar um bioconstrutor especialista que uma equipe especializada em bioconstrução para executar uma obra completa.
9 – Fazer tinta de terra usando muita cola branca (PVA):
A tinta de terra tem a propriedade de ser uma tinta atóxica e também com baixa pegada ecológica pois pode ser feita de forma artesanal no local da obra.
Uma das principais vantagens é que ela mantém a propriedade de respiração das paredes de terra. Porém, se na mistura da tinta de terra você usar mais do que 1% de cola branca (PVA), a tinta de terra plastifica a superfície da parede tapando os poros e impedindo a troca de ar da parede.
Portanto, o ideal é usar outros fixadores em conjunto ou até mesmo substituindo o uso da cola branca na mistura.
O sumo de cactos Palma é um ótimo fixador que pode ser usado na mistura
Para o preparo, corte os cactos em fatias, deixe de molho por 2 dias e depois coe para usar o sumo na mistura no lugar de usar água. Outro fixador excelente é o leite de vaca.
O leite tem uma proteína chamada de caseína que inclusive é usada na indústria de tintas convencionais.
Usar o leite em substituição da água na mistura da tinta ou em parte dela já confere uma ótima fixação na superfície das paredes a serem pintadas.
Veja aqui abaixo algumas receitas de tintas minerais naturais que você pode usar para garantir que suas paredes de terra continuem respirando:
Tinta mineral à base cal:
- 6 kg de cal hidrata
- Pigmento mineral para dar cor
- 200ml de cola branca PVA (ou usar leite ou sumo de cactos na mistura ao invés de água para substituir o uso da cola)
- 16L de água (leite ou sumo de cactos)
Tinta de terra:
- 6 kg de terra peneirada fina (peneira de 2mm)
- 200ml de cola branca PVA (ou usar leite ou sumo de cactos na mistura ao invés de água para substituir o uso da cola)
- 16L de água (leite ou sumo de cactos)
Você também pode encontrar disponíveis no mercado brasileiro alguns fornecedores de tintas minerais e tintas de terra que permitem que as paredes respirem. Veja abaixo a indicação de alguns desses fornecedores:
- https://www.instagram.com/solumtintas/
- https://www.krotentintas.com.br/
- https://etnobotanica.com.br/primacolore
- https://bautechbrasil.com.br/
10 – Rebocar paredes de terra com reboco convencional de cimento e areia:
Paredes de terra precisam de rebocos compatíveis com suas propriedades.
Se optar por rebocar uma parede de terra com reboco comum de cimento e areia, este reboco vai se soltar da parede com o tempo pois o coeficiente de dilatação e retração deste reboco é diferente da parede de terra.
Isso quer dizer que as micro movimentações da parede de terra e do reboco a partir da interação com a umidade do ar depois da obra pronta, vão fazer com que ambas as partes se movimentem de maneira diferente, gerando assim o descolamento do reboco da superfície da parede.
Além disso, o reboco de cimento e areia veda os poros de uma parede de terra, impedindo a otimização da regulação térmica e de umidade que a respiração da parede de terra confere.
11 – Não umedecer a superfície das paredes de terra para aplicar reboco ou tinta de terra:
Sempre que for aplicar um reboco ou tinta de terra em uma parede, não se deve deixar de umedecer a superfície da parede antes.
Isso porque se aplicar o reboco ou a tinta de terra na parede sem umedecer, a parede vai absorver toda umidade da massa de reboco ou da tinta e interferir no tempo de secagem ideal para o reboco e tinta de terra.
No caso da tinta, isso prejudica a ancoragem na parede, e no caso do reboco além disso, também pode fazer com que ele trinque pois perde umidade para a superfície da parede secando muito rápido.
12 – Usar lona comum ou impermeabilização inadequada para telhado verde:
Os telhados verdes são feitos também para cumprir as funções básicas de qualquer tipo de cobertura, por isso não podem dar vazamento nem goteiras e devem ser duráveis.
Usar as camadas corretas na execução de um telhado verde é essencial para que ele seja funcional e não dê problemas. Não se deve usar qualquer tipo de lona para impermeabilizar seu telhado verde.
Lonas de terreiro comuns não são anti-raízes e em menos de 5 anos as raízes das plantas irão furar a lona e começar os problemas de vazamento.
Sempre que for impermeabilizar um telhado verde certifique que a camada de impermeabilização é resistente às raízes.
Mantas de PEAD usadas em aterros sanitários, lonas de PVC usadas para lagos ornamentais, lonas de vinil com tela interna de poliéster usadas para cobrir cargas de caminhão e mantas asfálticas com aditivo anti-raízes são as mais indicadas para ter um telhado verde estanque e durável.
13 – Usar qualquer tipo de bambu para sua bioconstrução:
O bambu é uma planta com vários potenciais e vantagens para uso na bioconstrução.
Existem várias espécies de bambu e se não for usada uma espécie adequada, podem ter problemas constantes com carunchos, cupins, falta de resistência e durabilidade.
Os bambus com colmos mais frágeis e que contém mais amido são aqueles mais atacados pelos insetos.
Os bambus mais indicados para uso na construção são os bambu mossô (Phyllostachys edulis), o bambu gigante (Dendrocalamus giganteus) e o bambu cana da índia (Phyllostachys aurea).
Como existem grande variedades de bambus, deve-se ter cuidado na identificação deles para não escolher um que não seja apto para sua bioconstrução.
14 – Não fazer tratamento adequado para usar bambu na sua obra:
Os bambus mais espessos (15 a 25 cm de diâmetro), como o bambu gigante, podem ser tratados por imersão em água no período de 15 dias. Ao serem submersos, a pressão da água expulsa o amido do interior do bambu.
Outra maneira para tratar bambus mais espessos é com a pulverização de 200ml de uma solução de octoborato tetrahidratado no interior dos colmos. A solução deve ter concentração de 1 para 200 do octoborato em água. Para pulverizar, se pode furar cada colmo com furadeira, pulverizar a solução no interior do bambu e depois tampar o furo com sabão em barra. Depois de 15 dias virando a vara 2 vezes ao dia, já pode tirar o sabão do furo e jogar fora o restante da solução que não foi absorvida pela parede interna do bambu.
Porém, esses bambus com mais 15 cm de diâmetro tem parede internas muito largas (de 2 a 3,5 cm de espessura) e não devem ser tratados somente com fogo ou com vernizes na sua superfície externa, pois dessa maneira o interior do bambu fica sem tratamento e suscetível ao ataque de carunchos e cupins.
Já para os bambus com diâmetro menor que 15 cm, como o Phyllostachys Aurea, é possível tratamento com maçarico fazendo com que o fogo expulse o amido do interior do bambu. Para tratar o bambu com fogo, você deve passar o maçarico somente no sentido de crescimento do bambu e não se deve aproximar muito a chama da vara para não estourar o colmo do bambu.
Depois desses tratamentos, é sempre bem vindo um tratamento superficial com Stain à base de água na superfície externa das varas. Assim é possível conseguir alta durabilidade e longevidade nos bambus usados na sua bioconstrução.
15 – Menosprezar a escolha correta do tipo e da profundidade da fundação:
Não é conveniente dar atenção somente ao peso das paredes para determinar qual o tipo e a profundidade da fundação da sua bioconstrução. Também é essencial fazer testes in loco através de furos de sondagem no terreno para determinar a resistência do subsolo.
Com a sondagem feita por uma empresa profissional especializada, é possível identificar qual a profundidade do solo firme no subsolo e também se existe afloramento de água ou regiões pouco resistentes abaixo da superfície do terreno natural.
Com isso é possível determinar com segurança qual tipo e qual profundidade a fundação a bioconstrução deve ter.
Lembrando que a fundação é o “pé” da construção, e ela é de suma importância para que toda edificação seja estável e não ocorram problemas estruturais, trincas e outros problemas que podem colapsar a obra. para cada tipo de subsolo existe um tipo de fundação mais adequada.
Para solos firmes e com pouca movimentação superficial, podemos escolher vigas baldrames de concreto ciclópico, para solos que têm mais resistência em maior profundidade, podemos escolher sapatas de concreto armado, e para terrenos muito úmidos e pouco resistentes como terrenos arenosos, podemos usar o radier como opção de fundação.
16 – Não proteger adequadamente as bases das paredes de terra da umidade do solo, das chuvas de vento e dos respingos do telhado.
Fazer paredes de terra requer um cuidado especial com a proteção adequada contra umidade indesejada na base das paredes.
Para isso é imprescindível impermeabilizar a fundação antes de começar a execução das mesmas.
A impermeabilização da fundação impede que a umidade ascendente suba pelo interior das paredes por capilaridade.
A umidade do subsolo consegue vencer a força da gravidade em até aproximadamente 50 cm de altura por dentro do reboco e das paredes quando não existe uma camada impermeável entre a fundação e a base.
Essa impermeabilização deve ser aplicada na fundação depois de pronta e feita com um impermeabilizante acrílico,asfáltico ou argamassas cimentícias bi componentes, sempre seguindo a quantidade de demãos e instruções de uso dos fabricantes.
Também é indicado distanciar as paredes de terra do nível do terreno natural ou das calçadas externas da edificação com altura de pelo menos 50 cm.
Isso deve ser feito com elementos resistentes às chuvas de vento e aos respingos do telhado. Para isso, fazemos o que chamamos de alicerce ou parede de arranque, executada com blocos de concreto, muro de pedras ou com uma impermeabilização lateral na própria parede de terra.
Qual é o valor para construir uma casa de 300 metros quadrados?
Sei que quem está lendo este texto, tem preocupação com o valor que vai investir na sua bioconstrução.
Para facilitar sua vida deixo aqui essa informação já mais detalhada:
Mas primeiro, prestemos atenção em uma coisa: A execução de uma bioconstrução tem valor variável de acordo com o nível dos acabamentos, complexidade do projeto, prazo de execução pretendido, tamanho da equipe de obras e também com a disponibilidade dos recursos locais que serão usados.
Então vamos aos valores. Para uma casa de 300m² devemos considerar um valor médio de 270 mil até 1 milhão de reais.
Veja abaixo os valores que se deve investir de acordo com o tamanho da casa que você pretende ter:
- Casa de 100m² – R$ 90 mil a R$ 350 mil
- Casa de 200m² – R$ 180 mil a R$ 700 mil
- Casa de 300m² – R$ 270 mil a R$ 1 milhão
- Casa de 400m² – R$ 360 mil a R$ 1,4 milhões
- Casa de 500m² – R$ 450 mil a R$ 1,75 milhões
Qual custo de uma casa bioconstruída com 2-3-4-5-6-7 cômodos?
Aqui vai uma dica do especialista para que você consiga planejar sua bioconstrução com tudo que precisa e dentro da sua disponibilidade financeira.
Você pode executar sua bioconstrução em etapas e assim não atropelar nem seu orçamento e nem seus sonhos e necessidades atuais.
Antes de iniciar a obra, compatibilize sua disponibilidade financeira com a quantidade de cômodos que você precisa em cada etapa da sua bioconstrução.
Programar seu orçamento antes de iniciar a obra é muito importante para você não nadar, nadar e morrer na praia com uma casa inacabada e mal construída.
Vou facilitar para você e deixar aqui os valores médios que terá que investir de acordo com o números de cômodos que você vai bioconstruir.
Para essa conta levei em consideração cômodos com média de 16m², ou 4m x 4m de tamanho.
- Casa com apenas 1 cômodo – R$ 16,5 mil a R$ 64,7 mil
- Casa com 2 cômodos e 1 banheiro – R$ 30,1 mil a R$ 120,7 mil
- Casa com 3 cômodos e 1 banheiro – R$ 45,4 mil a R$ 176,4 mil
- Casa com 4 cômodos e 2 banheiros – R$ 62,1 mil a R$ 241,5 mil
- Casa 5 cômodos e 2 banheiros – R$ 76,5 a R$ 297,5 mil
- Casa 6 comodos e 2 banheiros – R$ 90 mil a R$ 350 mil
- Casa com 7 cômodos e 3 banheiros – R$ 108 mil a R$ 420 mil
- Casa com 8 cômodos e 3 banheiros – R$ 126 mil a R$ 490 mil
- Casa com 9 cômodos e 3 banheiros – R$ 136 mil a R$ 530 mil
- Casa com 10 cômodos e 4 banheiros – 158 mil a R$ 615 mil
Quais são os custos de uma construção sustentável?
Vários fatores influenciam no custo final do metro quadrado construído de uma bioconstrução. Como já citei aqui, de acordo com as demandas, disponibilidades de recursos, níveis de acabamentos, tempo da obra dentre outros fatores, uma bioconstrução pode ter variação entre R$ 900 /m² até R$3500 /m².
Mas para que não fique perdido na hora de oferecer seus serviços como especialista em bioconstrução ou na hora de construir uma casa bioconstruída vou deixar aqui abaixo uma divisão da média de valores que terá que investir em cada uma das etapas.
Importante saber que para divisão dos custos totais de uma bioconstrução devemos considerar em média um investimento de 50% do valor total em materiais de construção e 50% em mão de obra. Claro que estes percentuais vão se alterar de acordo com cada região e contexto.
Na tabela abaixo considerei o valor total de investimento de 200 mil para a obra completa da bioconstrução.
Lembre-se que nesta tabela o custo total da mão de obra é de R$ 100.000,00 Mil e os custos de materiais é o mesmo.
Ou seja, vou detalhar em percentual o que cada etapa do processo de construção possui como seu valor estimado.
Etapa da bioconstrução | Percentual/Valor gasto nesta etapa |
---|---|
Projeto, planejamento e aprovação | 6% a 15% = R$ 6 mil a R$ 15 mil |
Fundação | R$ 5 mil a R$ 10 mil |
Estrutura | 15% a 25% = R$ 15 mil a R$ 25 mil |
Paredes | 3% a 7% = R$ 3 mil a R$ 7 mil |
Cobertura | 5% a 9% = R$ 5 mil a R$ 9 mil |
Instalação hidráulica e elétrica | 14% a 20% = R$ 14 mil a R$ 20 mil |
Esquadrias, marcos de janelas e portas | 5% a 11% = R$ 5 mil a R$ 11 mil |
Acabamentos e Revestimentos | 17% a 35% = R$ 17 mil a R$ 35 mil |
Vidros e complementos | 2% a 6% = R$ 2 mil a R$ 6 mil |
Consigo financiar uma bioconstrução com paredes de terra?
Sim, é possível financiar uma bioconstrução com paredes de terra, principalmente quando você usa as técnicas já normatizadas aqui no Brasil.
Paredes de adobe e taipa de pilão já foram normatizadas no nosso país.
Portanto, você pode colocar no memorial descritivo da sua obra e projeto a citação dessas normas, e assim ter o respaldo de segurança e de qualidade desses materiais que vão compor as paredes da sua bioconstrução.
Além disso, temos a comprovação de desempenho histórico desses materiais que já são usados há séculos aqui no Brasil e que até hoje compõem a maioria das edificações em pleno uso nas cidades históricas.
Com a citação das normas e também com a descrição da justificativa histórica fica mais fácil para as instituições financiadoras aprovarem construções com paredes de terra, mesmo com todo preconceito e ainda que essas técnicas não sejam materiais usados normalmente na construção civil convencional.
Quais são as partes mais caras para se ter em mente na hora de bioconstruir?
Para não se perder financeiramente na hora de planejar sua bioconstrução, vou te dar uma informação essencial para se preparar para as partes mais caras de uma obra bioconstruída.
A etapa do acabamento e revestimentos são as mais caras da obra, chegando em até 35% do investimento total em materiais.
Esse é o momento onde sua bioconstrução é preparada para que seja habitada com todos elementos necessários e começar a funcionar como planejado no projeto.
E esta etapa merece muita atenção pois como é o final da obra, já terá se investido boa parte do dinheiro nas etapas iniciais do processo construtivo.
Muita gente acaba ficando sem dinheiro para fazer uma obra bem acabada com tudo que precisa para uma edificação funcional e com bons revestimentos pois planeja mal e não dá a devida atenção para essa importante e decisiva etapa.
Os acabamentos não são apenas rebocos e tintas, mas também, pisos, louças de vasos sanitários, bojos de pias, torneiras, box de chuveiro, forros, móveis, portas, as ferragens e partes metálicas como torneiras, chuveiros e uma infinidade de pequenas peças que permitem o uso integral e adequado da edificação além de uma estética satisfatória.
Tem um ponto a ser observado nesta etapa que pode facilitar se você planejar mal a reserva financeira. Esta etapa admite que se escolham materiais de acabamento mais em conta para conseguir terminar a obra e deixá-la funcional.
Depois pode-se aos poucos ir trocando alguns materiais de acabamento por outros de melhor qualidade. Mas cuidado para não economizar e terminar com uma obra não funcional e feia.
Outra parte dispendiosa que exige investimentos significativos é a estrutura da bioconstrução que pode chegar a até 25% do investimento total em materiais.
São eles, pilares, vigas, cintas de amarração, vergas de portas e janelas e todos elementos que sustentam o peso da edificação e os transmitem para fundação e depois para o terreno.
A estrutura e a fundação são partes que não admitem economias pois devem ser feitas de maneira a suportar todo o peso dos elementos que compõem a bioconstrução.
Economizar nessas partes pode condenar a construção ao colapso estrutural e demandar manutenções constantes por toda a vida.
Porém, existe uma alternativa para que esta etapa fique mais acessível e a obra ainda mais sustentável que é o uso de paredes estruturais de terra.
Com o uso da taipa de pilão ou do hiperadobe é possível dispensar o uso de pilares e de uma estrutura separada das paredes.
Dessa maneira, conseguimos uma economia considerável e ainda paredes mais saudáveis e com um impacto ambiental bem menor.
Claro que para termos paredes estruturais de terra, devemos executá-las de maneira correta, já que além de serem paredes elas também irão suportar todo peso da obra, da cobertura e transmitir os esforços para a fundação.
Qual é o perfil das pessoas que procuram por casas bioconstruídas?
Como especialista em bioconstrução já atendi diversos tipos de pessoa. Sendo assim, vou tentar quebrar os tipos e provavelmente terá algum que encaixe para você que está lendo.
Busca por qualidade de vida e sustentabilidade
As pessoas que buscam casas bioconstruidas são principalmente aquelas que se preocupam com a preservação do meio ambiente, têm ligação com a natureza e querem algo inovador para deixar um legado de menor impacto possível para sua família, para sociedade e para o meio ambiente.
Além disso, pessoas que cuidam da sua saúde e se preocupam com seu bem estar e da sua família também buscam casas bioconstruidas.
Costumamos dizer que a bioconstrução está para as construções, equivalente aos alimentos saudáveis para quem se preocupa em comer bem e por consequência também morar bem.
Sabemos que a bioconstrução tem como um dos pilares, além da sustentabilidade, a geração de bem estar e saúde integral através do uso de materiais saudáveis, atóxicos e não contaminantes.
Rentabilidade e empreendedorismo
Com a sustentabilidade deixando de ser uma opção e passando a ser uma necessidade global apareceram também empreendedores em busca de materiais e técnicas construtivas mais ecológicas.
Isto porque na atualidade existe uma crescente busca e valorização no mercado por imóveis, produtos, opções de lazer e entretenimento ligados à natureza e à sua preservação.
Estes fatores e comportamentos em relação à expansão da bioconstrução estão alinhados com as tendências de sustentabilidade, mas também por serem mais rentáveis na revenda e mais econômicos no seu desempenho ao longo do tempo, com maior eficiência energética, menor consumo de água e maior promoção de conforto com uma experiência diferenciada e mais saudável para os usuários.
Todo um ambiente saudável e favorável proporciona o aumento inclusive da produtividade de trabalhadores em edifícios comerciais.
Portanto essa busca e tendência atende investidores que pretendem construir desde grandes centros industriais ou comerciais, edifícios residenciais verticais, condomínios ecológicos horizontais, resorts, hotéis, pousadas e também chalés em sítio particular para aluguel por temporada, por exemplo.
Assim temos um grande número de empresários buscando a bioconstrução como um caminho para rentabilidade e também para se destacarem no mercado atraindo clientes pela inovação e diferencial sustentável das edificações.
Autoconstrução e a possibilidade real vs o mito da economia
Outro grupo de pessoas que também buscam a bioconstrução são aquelas que pretendem economizar na construção e fazer sua obra com as próprias mãos.
Como a bioconstrução possui a característica e possibilidade de ser realizada com materiais mais naturais e menos processados industrialmente, tem muita gente que sonha em construir sua casa com as próprias mãos e assim buscam a bioconstrução como um caminho possível e mais viável economicamente para realizar este sonho.
E de fato, a bioconstrução pode ser até 30% mais barata que as construções convencionais, mas isto em contextos bem específicos e arrisco dizer até mesmo raros, restritos
Existe uma grande divulgação nas redes sociais de que a bioconstrução é uma opção de construção muito mais barata.
Porém o que muita gente não considera é que a economia durante a obra pode sim acontecer com o uso de materiais encontrados nos locais, porém é necessário investir tempo, que a maioria das pessoas não tem, para pesquisar, encontrar e tratar estes materiais adequadamente para que eles se tornem viáveis e duráveis durante os anos de uso da edificação.
Além disso, as pessoas que só buscam economia acabam não dando muita importância para a maneira correta de usar cada material natural, e também acabam negligenciando que é necessário uma mão de obra especializada e qualificada para garantir qualidade e mínimas manutenções futuras nos espaços criados.
A mão de obra pode chegar a 60% do investimento total de uma obra, portanto, por um lado não adianta economizar só nos materiais e fazer a obra com as próprias mãos e com voluntários sem experiência.
Dessa maneira, você pode vir a ter gastos constantes com manutenções, ter que refazer partes mal feitas e sua casa sair mais cara que uma obra convencional.
Para evitar que seu processo construtivo se torne uma dor de cabeça constante, considere contratar assessoria de especialistas em bioconstrução e mão de obra com experiência para auxiliar no processo de materialização do seu sonho.
Uma advertência, tenha muito cuidado com pessoas que divulgam na internet que fizeram suas casas com pouco dinheiro.
Na maioria das vezes elas não te contam os desafios e não divulgam se a casa ficou boa e durável. Pesquise se seu contexto de vida e local é parecido com o contexto dessas pessoas antes de embarcar em uma empreitada da casa própria só porque viu vídeos duvidosos pela internet.
Quais paredes posso usar para o banheiro de uma bioconstrução?
Os banheiros podem ser construídos com o mesmo tipo de parede do restante da casa. Inclusive, com os devidos cuidados e preparação da ancoragem, é possível assentar revestimentos e azulejos de cerâmicos em paredes de terra.
Outra opção para revestir o banheiro ou o box do chuveiro é usar resinas impermeabilizantes de silicones ou acrílicas sobre as paredes de terra já rebocadas.
Quando for usar revestimentos cerâmicos ou impermeabilização nas áreas molhadas dos banheiros procure deixar o outro lado da parede sem impermeabilizar e sem revestir com cerâmica para garantir que ela respire por pelo menos um dos lados.
Quais são os tipos de tratamento para os efluentes (esgotos líquidos) de uma casa bioconstruída?
O saneamento de uma bioconstrução é um dos pontos essenciais para que os esgotos não causem contaminação dos lençóis freáticos, mananciais de água e também impacto negativo na saúde das pessoas de uma localidade, urbana ou de uma área rural.
Um dos primeiros pontos que se pode fazer em uma bioconstrução para otimizar o sistema de tratamento de esgoto é separar as tubulações do sistema dentro da edificação, deixando um caminho exclusivo de tubulação para os esgotos com fezes e uma caminho distinto para aqueles que não tem fezes. Isso facilita e deixa o tratamento mais eficaz. Para os esgotos com fezes é importante usar tubos de 100mm, e para os esgotos sem fezes você pode usar tubos de 50mm ou 40mm.
Logo que as tubulações saírem da edificação deve-se destinar os esgotos com fezes e os esgotos sem fezes para estágios de tratamento separados um do outro.
É importante você entender que o tratamento de esgoto é realizado de duas maneiras diferentes nos sistemas e nos estágios que vamos especificar neste texto. São eles, o tratamento físico e o tratamento biológico. Na maioria dos sistemas eles acontecem de forma simultânea, pois os leitos filtrantes que fazem o tratamento físico são preparados para possibilitar também o tratamento biológico.
Tratamento físico
Uma das maneiras de tratamento é o tratamento físico, quando o esgoto passa por leitos filtrantes contendo septos (barreiras de anteparo como na caixa de gordura e tanque séptico) e ou materiais como carvão, pedras tipo britas e seixos (como nas valas de infiltração, tanque de evapotranspiração e filtros anaeróbios e aeróbios).
O tratamento físico acontece quando o esgoto passa por esses materiais, e estes fazem a separação física entre a água e os detritos, sólidos e escuma (espuma gerada no tratamento) presentes no esgoto. Dessa maneira o esgoto vai se depurando e se tornando menos contaminante e poluente.
Tratamento Biológico
O tratamento biológico dos efluentes é realizado nos estágios do tratamento através da presença de microrganismos que fazem a degradação da matéria orgânica dissolvida no esgoto.
A matéria orgânica presente nos efluentes é a fonte de contaminantes, e da proliferação de germes e seres patogênicos (causadores de doenças). Assim, quando temos microrganismos que fazem a depuração e degradação da matéria orgânica chamamos de tratamento biológico, pois é feito por microrganismos vivos.
Daí o nome de tratamento biodegradável, aquele que não é realizado por compostos químicos pois é realizado por microrganismos vivos. Algas, bactérias e protozoários são alguns desses microrganismos que fazem o tratamento biodegradável dos esgotos.
Inclusive existe um índice que atesta o nível de poluição de um esgoto que analisa a demanda bioquímica de oxigênio, ou DBO. O DBO é a quantidade de oxigênio que os microrganismos, que realizam o tratamento de maneira aeróbia (na presença de oxigênio), precisam para degradar a matéria orgânica do efluente por processos oxidativos. Quanto menor for o DBO, significa que o esgoto está menos poluído, pois possui mais oxigênio disponível para depuração pelos processos oxidativos dos microrganismos.
Existem duas classes de microrganismos que fazem o tratamento biológico de efluentes, os seres anaeróbios e os aeróbios.
Os aeróbios são aqueles que crescem nos leitos filtrantes que não tem a presença de oxigênio. Eles respiram e vivem sem necessidade de oxigênio. A decomposição sem oxigênio é mais demorada e gera gases de efeito estufa como metano e co2.
Já a decomposição aeróbia é mais rápida, precisa de leitos filtrantes menores e tem maior eficácia. Mas quando intercalamos estágios aerobios e anaerobios temos um tratamento de efluentes ainda mais eficaz.
Tratamento de esgotos sem fezes
Para os esgotos que não tem fezes, também chamados de águas cinzas, podemos usar uma sequência de tratamento com os seguintes estágios. Veja abaixo a ordem e a função de cada um desses estágios do saneamento:
Caixa de gordura – usada para separar as gorduras dos esgotos que saem da cozinha ou de lugares que contenham óleos, gorduras ou graxas.
Caixa de passagem ou inspeção – usada para mudança de direção do fluxo do esgoto e possível inspeção para desentupir a tubulação.
Caixa de passagem com carvão – usada para esgotos de chuveiros, pias e máquinas de lavar com a finalidade de filtrar os componentes dos detergentes, shampoos, sabões e sabonetes.
Sumidouro vertical – sistema usado para disposição final e filtração física e biológica anaeróbia dos esgotos.
Este sistema é o mais comum, usado inclusive em construções convencionais para disposição dos esgotos no terreno.
Ele também costuma ser usado para esgotos com fezes pré tratados em filtros anaeróbios e fossas sépticas.
O sumidouro consiste em um burado cavado na vertical. A dimensão do buraco depende do volume de esgoto lançado no sistema.
Depois de cavado são colocadas manilhas de concreto ou paredes de tijolo maciço que permitem a infiltração do esgoto no terreno, tanto pelas laterais como pelo fundo do sumidouro.
Esse buraco do sumidouro é cheio de pedras para que elas funcionem como um pré filtro físico e também como meio para bactérias anaeróbias (que vivem na ausência de oxigênio) possam se estabelecer entre as pedras e ajudar na depuração do esgoto.
Esse sistema tem uma desvantagem de não ser recomendado usar a disposição final dos esgotos como irrigação direta nem indireta para plantas e produção de alimentos.
Valas de infiltração – sistema usado para disposição final e filtração física e tratamento biológico aeróbio dos esgotos.
Este sistema é composto por valas de aproximadamente 60cm de profundidade e comprimento compatíveis com o dimensionamento calculado a partir do volume de esgoto lançado diariamente no sistema.
Estas valas horizontais são cavadas no terreno natural e não recebem impermeabilização, permitindo assim que o esgoto tratado também infiltre no terreno.
As valas são cheias com pedras e com vegetação. Também é possível que uma horta seja plantada sobre elas.
As pedras ajudam na filtragem física e criam um meio favorável para as bactérias efetuarem a depuração dos esgotos.
É um sistema simples e que permite usar o sistema de esgoto para produzir alimento e como irrigação indireta das plantas que estão sobre as valas.
Círculo de bananeiras – este sistema pode ser usado no lugar das valas de infiltração. Ele consiste em simular um filtro aeróbio parecido com as áreas pantanosas da natureza.
Para isso deve-se cavar um buraco de no máximo 1m de profundidade com diâmetro de aproximadamente 1,5m.
No fundo desse buraco enche-se com pedaços de troncos de árvores, talos de bananeiras e depois vai colocando galhos mais finos até chegar perto da borda superior do buraco.
Posteriormente deve-se cobrir o buraco com matéria orgânica seca tipo capim.
O esgoto é lançado no buraco um pouco abaixo da parte superior da borda, a aproximadamente 40cm de profundidade, formando assim o filtro que simula o pantano.
Para que esse filtro seja anaeróbio e bactérias que vivem na presença de oxigênio trabalhem nele digerindo o esgoto, é necessário que sejam plantadas bananeiras pelas laterais externas da borda do buraco.
Dessa maneira as raízes das bananeiras vão crescer para dentro do buraco e oxigenar o esgoto que estará sendo depurado por dentro.
Sempre que o nível da matéria orgânica abaixar dentro do buraco é necessário tirar o capim da parte superior e alimentar o buraco com mais matéria orgânica como galhos e troncos, e depois voltar a cobrir ele com capim seco.
Assim como as valas de infiltração, esse sistema também produz bananas como alimento usando o esgoto como irrigação indireta.
Tratamento de esgotos com fezes
Para esgotos que têm fezes, também chamados de águas negras, vamos listar aqui para você os estágios de tratamento que mais usamos aqui na Biohabitate.
Existem outros sistemas, mas se você usar essa sequência que está aqui abaixo terá uma ótima eficiência para o seu saneamento ecológico.
Como já dito, lembre-se que as tubulações para conduzir os esgotos em um sistema de saneamento que os efluentes contenham fezes deve ser realizado com tubos de 100mm de largura e inclinação entre 1% e 5%.
Caixa de passagem ou inspeção – para mudança de direção do esgoto para ser direcionado para as próximas etapas e para inspeção do esgoto e possíveis desentupimentos das tubulações e situações atípicas.
Tanque séptico – esse sistema é utilizado para separação física da água do esgoto da parte sólida e da parte que fica boiando. Esse tanque também é responsável pelo início do tratamento biológico do esgoto com fezes.
O tanque séptico é comum também em sistemas convencionais de tratamento de esgoto, e além disso, é muito importante em sistemas de saneamento ecológico, mesmo naqueles em que se usa o tanque de evapotranspiração (TEVAP) ou também conhecido como bacia de evapotranspiração (BET).
Aqui na Biohabitate usamos esse sistema como primeira etapa de um tratamento com esgoto contendo fezes.
O tanque séptico consiste em uma câmara dividida com um septo que separa os sólidos (que afundam) e a escuma (espuma que boia) da parte líquida do efluente.
Dessa maneira é possível que somente a parte líquida, sem sólidos e sem escuma, passe para o próximo estágio de tratamento. Isso otimiza o tratamento nas etapas subsequentes e possibilita a limpeza dos estágios de tratamento de maneira controlada com a retirada do lodo acumulado nesse primeiro estágio do tratamento.
O dimensionamento do tanque séptico depende da contribuição diária de esgoto que é determinada pelo uso da edificação e o número de pessoas que moram ou usam o banheiro do local.
É importante considerar também nesse dimensionamento o tempo de retenção do efluente dentro do tanque, porque isso permite que os microrganismos que fazem a digestão biológica possam ter contato com o efluente por um tempo determinado e assim realizar a depuração adequada do esgoto nessa primeira etapa.
Muitas pessoas não utilizam esse tanque quando escolhem pelo tanque de evapotranspiração para a disposição final de efluentes, porém consideramos isso um erro grave, pois os sólidos podem sobrecarregar a parte inicial da câmara anaeróbia do TEVAP e entupir ou diminuir a eficiência do sistema.
Filtro anaeróbio – logo depois do tanque séptico você pode usar um filtro anaeróbio cheio de britas ou seixos para filtração física e tratamento biológico anaeróbio do efluente.
Esse filtro deverá ter fluxo ascendente para que o esgoto seja direcionado para o próximo estágio de tratamento.
O dimensionamento do filtro anaeróbio é feito de acordo com o volume de esgoto proveniente do tanque séptico que já foi bem dimensionado.
Valas de infiltração – As valas de infiltração, como já explicado no texto acima, é um tipo de sistema para tratamento físico e biológico e para a disposição final do efluente, o devolvendo ao solo depois dos estágios anteriores. Isso significa que ele trata e também lança o efluente por infiltração no subsolo.
Muito importante ressaltar que para esgotos com fezes é necessário o pré tratamento dos efluentes no tanque séptico seguido do filtro anaeróbio. Caso contrário as valas de infiltração sozinhas não darão conta de fazer o tratamento do esgoto e esse vai se infiltrar no solo ainda poluído.
Para dimensionamento das valas de infiltração considera o volume de esgoto proveniente dos estágios anteriores e também a capacidade de infiltração do subsolo. Subsolos arenosos permitem maior infiltração, assim precisam de menor área para as valas de infiltração. Já solos argilosos são menos infiltrantes, assim as valas precisam ser maiores.
Tanque de Evapotranspiração (TEVAP) – também conhecido como Bacia de Evapotranspiração (BET) ou fossa de bananeira, esse é um estágio de tratamento para disposição final de efluentes.
O nome desse sistema tem origem na evaporação da água na superfície do canteiro onde as plantas são plantadas, e pela transpiração das folhas dessas plantas.
Assim surgiu o nome evapotranspiração, evaporação + transpiração. Por esse motivo é bem vindo que esse sistema seja instalado em locais com clima quente pelo menos em uma parte do ano.
É uma estrutura que mescla tratamento anaeróbio e aeróbio em um mesmo sistema. E por isso ele tem grande eficácia na depuração dos esgotos com fezes.
A grande vantagem do TEVAP é que ele produz alimento e faz a disposição final do efluente liberando para o meio ambiente somente vapor de água e alimento para as raízes das plantas que são plantadas no leito filtrante.
E isso acontece porque ele é um sistema impermeável onde o esgoto não se infiltra no subsolo depois de passar por todos os tratamentos anteriores.
Devido a essa característica ele é muito bem vindo em locais onde o lençol freático é raso e não permite o uso de sumidouros ou valas de infiltração.
Em todo o sistema do TEVAP temos tratamento biológico, e na parte aeróbia temos também tratamento físico com o fluxo ascendente do efluente passando por pedras, entulhos de obras, seixos, areia até chegar na terra onde são plantadas as bananeiras, mamoeiros, taiobas e outros vegetais com grande área foliar.
O TEVAP é basicamente composto por uma câmara anaeróbia feita de tijolos cerâmicos furados onde o esgoto é lançado no sistema.
Depois o esgoto passa para as laterais do sistema onde as raízes das plantas crescem e chegam até as pedras e seixos aerando essa etapa e fazendo com que ali aconteça decomposição aeróbia.
Vista de obra da Biohabitate com câmara anaeróbia de tijolos e leito filtrante aeróbio de seixo. Na direita da imagem corte esquemático do TEVAP
Aqui na Biohabitate o dimensionamento desse sistema é determinado por 1,5m3 de volume do sistema para cada pessoa que mora no local, mas isso considerando somente o esgoto com fezes lançado nele e depois de já ter passado previamente pelo tanque séptico.
Não fazer o pré tratamento no tanque séptico para depois lançar ele no TEVAP pode entupir o sistema e causar ineficiência, portanto, sempre que for escolher o TEVAP faça o pré tratamento no tanque séptico para retenção dos sólidos.
Existe uma polêmica do uso de pneus para fazer a câmara anaeróbia do TEVAP. Aqui na Biohabitate não os utilizamos, preferindo os tijolos cerâmicos furados para esse fim assim como na imagem abaixo.
E o motivo é que os pneus, por terem reentrâncias (espaço vazio dentro deles), o efluente não é distribuído de maneira homogênea no piso da câmara anaeróbia, assim o sistema pode ficar sobrecarregado no ponto em que o efluente é lançado.
Além disso, quando são colocados lado a lado para formar essa câmara anaeróbia, os pneus ficam com espaços vazios entre eles também na parte de cima e não só como os furos dos tijolos que ficam direcionados somente para a lateral e para parte de baixo do TEVAP.
Com essas aberturas na parte de cima dos pneus o efluente que já está na parte de cima do estágio aeróbio volta a se misturar com a câmara dentro dos pneus que é destinada para a decomposição anaeróbia inicial desse sistema.
Uma desvantagem do TEVAP em relação ao uso das valas de infiltração para tratamento e disposição final de efluentes com fezes é que o TEVAP é mais caro para sua implantação.
Ambos precisam do tanque séptico previamente, então esse é um custo igual para esses dois sistemas de disposição final.
E mesmo as valas de infiltração necessitando de um filtro anaeróbio depois do tanque séptico, coisa que para o uso do TEVAP não é necessário, mesmo assim a construção do tanque de evapotranspiração é muito mais oneroso.
Pois as valas de infiltração são só uma escavação no subsolo e cheias de material filtrantes, já os tanques de evapotranspiração são sistemas que precisam de muros de arrimo internos e totalmente impermeabilizados.
Além disso, assim como pode ser visto na imagem de cima, é necessário fazer dois TEVAPs, sendo cada um com capacidade máxima de tratamento, pois eles são usados alternadamente para que o que fica parado se auto limpe.
Isso sobe muito o custo de instalação desse sistema. E se você não fizer dois, pode ser que a cada 15 anos em média você precise parar de lançar esgoto no TEVAP para esvaziá-lo e limpá-lo por completo.
Imagina ter que parar o uso do TEVAP, limpá-lo ainda com material não inerte e além disso ficar sem onde lançar o esgoto que vem do tanque séptico.
Então, mesmo que seja só de 15 em 15 anos a limpeza, use sempre dois TEVAPs alternadamente, assim não precisará de limpar nunca seu sistema.
Vídeos sobre Bioconstrução
Agora, irei deixar uma lista completa de vídeos do nosso canal no Youtube para que você consiga aprender mais sobre essa área da arquitetura que é tão rica!
Inclinação ideal para telhado verde
Conclusão
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